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2024 foi um ano movimentado para Jean-Michel Jarre, ganhando louros olímpicos e terminando com um relançamento de aniversário do seu LP pioneiro Zoolook. Mas, como sempre, o autor do eletrônico Oxygene não está olhando para trás, mas para a frente, para a inovação musical impulsionada pela Realidade Virtual e Inteligência Artificial. “É disso que eu gosto neste momento”, ele diz a Mark Blak da revista MOJO, “porque não sabemos o que vem a seguir”.
O autor Arthur C. Clarke, de “2001: Uma Odisseia no Espaço”, disse uma vez a Jean-Michel Jarre, que um dia ele faria um concerto na lua. Era o tipo de conversa que o álbum de 1976, Oxygene, tendia a encorajar. Ali estava uma música que parecia alcançar o espaço, incorporando a promessa infinita da tecnologia. No entanto, Clarke entendeu bem o suficiente, a extrema improbabilidade do concerto lunar de Jarre. Como “Alien, o 8º Passageiro”,o sucesso de bilheteria de ficção científica de alguns anos depois, alertou: “No espaço, ninguém pode ouvir você gritar”.
“Para um músico, seria um não-evento total”, diz Jarre hoje. Em vez disso, o pioneiro da música eletrônica está abraçando o mundo virtual. O concerto de Jarre no dia de Natal de 2023 no Palácio de Versalhes o encontrou se apresentando para uma plateia ao vivo enquanto seu avatar fazia o mesmo para uma reunião de “gêmeos digitais” assistindo online, e foi lançado recentemente como um álbum ao vivo, o Versailles 400.
Cumprimentando MOJO em seu estúdio perto de Paris, o Jarre da vida real, agora com 76 anos, está surpreendentemente fresco. Sentado em frente a uma impressionante peça de arte de parede espelhada, ele favorece aqueles óculos escuros usados apenas por estrelas do rock (veja: Bono, Daltrey, Elton) como uma barreira potencial entre ele e seu interrogador, mas durante toda a conversa ele está envolvido e envolvente.
Até o momento, Jarre vendeu cerca de 80 milhões de álbuns e quebrou recordes mundiais por tocar para alguns dos maiores públicos do planeta (o marco mais recente: 3,5 milhões em Moscou em 1997). Uma figura proeminente na transferência da música eletrônica para o mainstream pop e uma das maiores exportações musicais de todos os tempos da França (sem mencionar a insígnia de Comandante da Légion d’Honneur), ele era um favorito para ser a atração principal da cerimônia de encerramento dos Jogos de Paris em agosto, mas insiste que manteve a distinção em perspectiva. “Foi um evento esportivo e nós fomos apenas a cereja do bolo“, ele adverte. “Queríamos fazer a melhor cereja, mas ainda era uma cereja.”
O show começou com um Tom Cruise ousado fazendo rapel do telhado do Stade de France e terminou com Jarre correndo, como um herói de ação musical, entre um banco de teclados e sua harpa laser característica, enquanto tocava os sucessos de seu recém-lançado EP “Paris Stadium”.
“Mas eu odeio quando você está em um estádio ou mesmo no meio de uma situação de 360° e tem que virar as costas para o público”, ele diz. Esta, então, é a razão de ser de Jarre em 2024 e além: usar a tecnologia para que ele nunca mais tenha que virar as costas para as pessoas novamente.
Versailles 400 não foi a primeira apresentação de Realidade Virtual de Jarre. No Réveillon de 2020-2021, ele tocou em um estúdio parisiense, enquanto seu avatar fez o mesmo em uma Notre Dame virtual. Em Versalhes, Jarre usou o headset Lynx-R1 de “Realidade Mista”, monitorando seus movimentos entre a famosa Galeria dos Espelhos do castelo e um mundo digital de estruturas cinéticas e paisagens futurísticas.
“Isso significa que eu posso estar em contato não só com o público real na minha frente, mas também com o público de avatares”, explica ele. “Isso abriu novos limites e me permitiu alcançar pessoas que de outra forma estariam isoladas”.
O avatar de Jarre entrou neste mundo virtual durante os ensaios na noite anterior ao show. “E havia avatares de pessoas de todos os lugares: Rio, Tóquio e uma garota muito ativa e entusiasmada de Manchester que me disse que era tetraplégica, então esta foi a primeira vez que ela pôde compartilhar um evento ao vivo e dançar a noite toda”.
Para Jarre, esse é apenas mais um aspecto de sua paixão por “inovação disruptiva”. Ao contrário de muitos nas artes, por exemplo, ele afirma não se sentir ameaçado pela Inteligência Artificial.
“Está no DNA humano pensar que ontem foi melhor e amanhã será pior. Mas quando a inovação disruptiva surge, precisamos aceitá-la. Quanto mais cedo domarmos a fera, melhor”.
“Como qualquer fenômeno novo, é perigoso”, ele admite. “A invenção do fogo foi perigosa, a invenção da eletricidade foi perigosa. Mas elas nos permitiram evoluir. A IA revolucionará a maneira como criamos e produzimos conteúdo. Mas a partir disso, geraremos o próximo Easy Rider, o próximo Jean-Luc Godard, o próximo hip-hop e o rock’n’roll de amanhã”.
Nascido em Lyon no pós-guerra, Jean-Michel Jarre cresceu em torno da música e da inovação. Sua mãe, France Pejot, ajudou a lançar o clube de jazz parisiense, “Le Chat Qui Pêche”, onde Jarre se lembra de ter passado seu décimo aniversário empoleirado no piano do local e assistindo Chet Baker tocar trompete.
No entanto, os pais de Jarre se divorciaram, e seu pai, o compositor de cinema Maurice Jarre, foi morar em Los Angeles, onde estava ocupado ganhando Oscars por suas trilhas sonoras para “Lawrence da Arábia” e “Doutor Jivago”. Jean-Michel era mais próximo de seu avô paterno, André, um oboísta amador e engenheiro profissional que criou uma das primeiras mesas de mixagem de rádio e presenteou seu neto com um gravador de fitas de segunda mão incômodo.
“Fiquei totalmente obcecado por aquilo”, diz Jarre. “Era uma monstro, mas eu o levava para todo lugar e comecei a gravar basicamente tudo. Um dia, toquei uma fita ao contrário e pensei que alienígenas estavam falando comigo. Foi quando comecei a processar o som da minha guitarra”.
A segunda banda de Jarre, The Dustbins (visto na comédia de 1968 Des Garçons et des Filles), se inspirou nos grupos usuais da Invasão Britânica, mas essa não era realmente a música de Jarre.
“Há um local famoso em Paris chamado ‘Olympia’, e eles costumavam abrir as portas até as três ou quatro da manhã todos os dias da semana”, ele relembra. “Eu via todas essas bandas de rock progressivo, pessoas como Soft Machine ou o início do Pink Floyd. Mas eu costumava pensar: OK, essa é a música da minha geração, mas essa não é a minha revolução porque vem do mundo anglo-saxão”.
Um de seus colegas da banda o viu experimentando o seu gravador e sugeriu que ele entrasse em contato com o GRM, Groupe de Recherches Musicales, um coletivo fundado pelo pioneiro da música concreta Pierre Schaeffer.
“Essas pessoas eram absolutamente vanguardistas e suas abordagens eram tipicamente francesas, e vinha de surrealistas como [o pintor e escultor] Marcel Duchamp”, explica Jarre. “Assim como Duchamp apresentou a obra de arte Fountain em 1917 como um mictório de porcelana, Pierre Schaeffer acreditava que a música não é feita apenas de notas. Você pode fazer música com todos os ruídos do mundo ao seu redor. Era sobre fazer o som de um pássaro em um clarinete ou usar o som de uma máquina de lavar como percussão.”
Melodias guiadas por laser: (acima) Jarre se apresenta com sua harpa laser, Toronto, Canadá, 9 de maio de 2017; (abaixo) vive la révolution: Jean-Michel celebra o Dia da Bastilha na Place de la Concorde, Paris, 14 de julho de 1979.
Jarre demonstrou recentemente o quanto as ideias do GRM se tornaram populares quando ele colaborou com a Renault em sons personalizados para a nova linha de veículos elétricos da empresa. Jarre ajudou a criar VSPs (Vehicle Sounds for Pedestrians – Sons do veículo para pedestres) e uma sequência de boas-vindas que toca assim que o motorista senta no carro.
Alguns desses sons foram desenvolvidos a partir daqueles presentes em seu último álbum de estúdio, Oxymore de 2022, onde Jarre fundiu vozes sampleadas, sons encontrados e música ambiente como uma homenagem a Pierre Schaeffer e Pierre Henry.
“Eu queria fazer o primeiro LP de 360° do mundo, porque na vida cotidiana você tem sons ao seu redor. No entanto, quando você compõe, você é como um pintor em frente a uma tela. Eu estava revisitando o passado para explorar o futuro”, ele explica.
É a tecnologia que empoderou Jarre, e que ele acredita ser a chave para toda inovação musical, disruptiva ou não. “A tecnologia dita estilos, não o contrário”, ele insiste. “Isso remonta ao que dizíamos sobre IA. Sempre foi assim, porque inventar a guitarra elétrica nos deu Chuck Berry e David Gilmour, e a câmera de filme nos deu Quentin Tarantino. Só consigo fazer a música que faço porque alguém criou as ferramentas certas.”
Em 1967, Jarre encontrou a ferramenta certa, quando comprou seu primeiro sintetizador, o portátil EMS VCS3, que vinha em sua própria maleta. No início dos anos 1970, ele escrevia jingles de rádio para a Pepsi e músicas para estrelas pop europeias como Françoise Hardy e Patrick Juvet. Com o tempo, a cozinha/estúdio de seu apartamento perto da Champs-Élysées se encheu de sintetizadores modulares, Farfisas, osciladores, máquinas de fita Revox e muito mais.
Jarre lançou seu LP de estreia, Deserted Palace de 1973, seguido pela trilha sonora do thriller de Alain Delon, Les Granges Brûlées. Nenhum dos dois vendeu. Ao mesmo tempo, o grupo de sintetizadores de Nova York Hot Butter fez sucesso com “Popcorn”. O cover pseudônimo posterior de Jarre da música fracassou, mas o gancho de “Popcorn”, movido a Moog, foi um momento de iluminação.
Jarre gravou Oxygene em seu estúdio montado na cozinha de seu apartamento. Suas paisagens sonoras arrebatadoras uniram os pontos entre Hot Butter, Pierre Schaeffer, Ravel, Debussy e o artista francês Pierre Soulages, cujas pinturas texturizadas inspiraram Jarre a tentar o mesmo com a música.
“Isso foi eu encontrando minha própria revolução”, ele explica. “Não era uma coisa francesa ou nacionalista, mas veio da música clássica europeia e do jazz, e não de um formato de rock’n’roll”.
A parceira de Jarre na época, a atriz Charlotte Rampling, disse a ele que seria um grande sucesso ou um fracasso completo, enquanto o chefe da “Island Records”, Chris Blackwell, admitiu que recusar Oxygene foi um dos maiores erros de sua carreira.
“As pessoas diziam: Não há bateria, nenhuma faixa curta para rádio, nenhuma guitarra e nenhum cantor”, relata Jarre. “Mas quando as pessoas rejeitaram meu trabalho inicial, isso me mostrou que eu estava fazendo a coisa certa. Porque todo novo movimento é rejeitado pelo establishment”.
No entanto, Jarre teve um aliado fiel no produtor Francis Dreyfus, que lançou Oxygene em seu selo, “Disques Motors”. Quando a Polydor lançou o LP no exterior, o single inspirado em Popcorn, Oxygene (Parte IV), se tornou um sucesso mundial, e o álbum alcançou o Top 5 em vários países, incluindo o Reino Unido, e vendeu até hoje cerca de 18 milhões de cópias.
Oxygene pode ter representado a “revolução pessoal” de Jarre, mas o tempo era tudo. A “Motors” bombardeou lojas de discos e discotecas com cópias do LP para demonstrar seus sistemas de alta fidelidade. Oxygene também tinha uma capa artística e misteriosa, com a pintura de Michel Granger mostrando um crânio humano emergindo de um planeta Terra em ruínas.
Então, bem na hora, veio “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, de Steven Spielberg, onde extraterrestres benignos se comunicam com a Terra por meio de um motivo musical no estilo Oxygene. Em 2016, a vida imitou a arte quando músicos enviaram amostras de suas músicas por meio de antenas de radiofrequência para GJ273B, um planeta possivelmente habitável a mais de 12 anos-luz da Terra. Jarre contribuiu com uma nova versão de Oxygene (Part IV) inspirada na música do filme.
Oxygene e seu sucessor, o romântico Equinoxe de 1978, se tornaram sucessos enquanto mais perturbações musicais aconteciam do outro lado do Canal da Mancha.
“Ah, eu amava punk”, sorri Jarre. “O punk era uma forma de fazer a arte viver novamente, mas acho que só poderia ter existido no Reino Unido. Havia um romantismo extremo em tudo isso, e se você cavasse mais fundo, é como os Mods e os roqueiros mais para trás.”
No campo dos atos britânicos dos anos 1960, Jarre gravitou mais em direção ao The Who, cujo segundo single, “Anyway, Anyhow Any-where”, de 1965, repleto de feedback, sinalizou seu futuro. “Pete Townshend criou aquela parede de som”, ele diz, admirado. “No papel, é impossível ter quatro pessoas fazendo solos ao mesmo tempo. Mas funcionou. O Who criou heavy metal, ópera rock e música que era brutal, mas também sofisticada”. Em 2015, Townshend se juntou a Moby, Fuck Buttons, 3D do Massive Attack e outros no álbum colaborativo de Jarre, Electronica 1 – The Time Machine, dedicado ao fundador recentemente falecido do Tangerine Dream, Edgar Froese.
Jarre certa vez descreveu a era das trevas analógica, quando ele e seus contemporâneos alemães Tangerine Dream, Klaus Schulze e Kraftwerk faziam música, assim: “Todos nós em nossas pequenas cavernas, como morcegos, trabalhando isolados”.
Eles usaram a mesma tecnologia, mas Jarre considerou seu estilo “mais impressionista” do que a “abordagem brilhante, fria e robótica” do Kraftwerk. Ele também disse a Froese que o Tangerine Dream parado no palco, imóvel, atrás de seus sintetizadores “não era sexy”.
“Eu não tinha desejo de ficar escondido por uma parede de botões e cabos”, ri Jarre, que saiu da capa de Magnetic Fields, de 1981, com um ar de estrela pop gaulesa prestes a conquistar o seu terceiro número 1 francês
Então veio uma inovação mais disruptiva. Em 2018, o grafiteiro Banksy vendeu sua pintura, “Girl With A Balloon”, por mais de £ 1,4 milhão na casa de leilões “Sotheby’s”, após ser destruída.
Foi uma reminiscência da época em que Jarre – “um fã absoluto de Banksy” – prensou uma única cópia de Music for Supermarkets de 1983. Ele permitiu que o disco fosse tocado uma vez na Radio Luxembourg antes de queimar publicamente as masters “como um protesto contra supermercados que vendiam música como pasta de dente ou caixas de lenços de papel”.
“Atraí insultos de gravadoras do mundo todo”, ele relembra, antes de desafiar seu público novamente com Zoolook, de 1984. Jarre acaba de revisitar o LP para seu 40º aniversário (adicionando uma faixa de meados dos anos 1980: Moon Machine) e o considera o precursor do Oxymore.
O etnólogo francês Xavier Bellenger e a artista multimídia Laurie Anderson ajudaram Jarre a criar Zoolook a partir de samples e discursos em 25 idiomas diferentes (incluindo sioux, tibetano, pigmeu e balinês), com a maior parte alimentada pelo então novo brinquedo de Jarre, o sampler “Fairlight CMI”.
“Peter Gabriel e eu tivemos os dois primeiros Fairlights na Europa”, ele diz. “De repente, você podia gravar o latido do seu cachorro e reproduzi-lo em um teclado.”
Zoolook era muito estranho para o público da Oxygene, mas Jarre estava preparado para sacrificar as vendas pela inovação musical: “A ideia era coletar os sons do mundo que estão ao nosso redor, incluindo os sons vocais do planeta.”
Ao mesmo tempo, alguns dos colegas de Jarre estavam se ramificando em filmes: notavelmente o compositor grego Vangelis, indicado ao Globo de Ouro por sua trilha sonora baseada em sintetizador para Blade Runner, de 1982.
“Recusei muitas trilhas sonoras”, revela Jarre. “Meu relacionamento com meu pai era bem difícil e eu considerava trilhas sonoras o território do meu pai. Mas algumas das trilhas sonoras que recusei foram aquelas em que a música eletrônica se tornou bastante popular.”
“Feliz Natal, Mr. Lawrence”?, “Os Gritos do Silêncio”? “Blade Runner”? “Cabe a você adivinhar”, sorri Jarre.
Em vez de escrever para o cinema, Jarre passou a década de 1980 criando concertos cinematográficos ao vivo e se esforçando para atingir o maior número possível de pessoas.
Em 1979, ele entrou para o Guinness Book of Records pela primeira vez após atrair aproximadamente um milhão de pessoas para seu concerto do Dia da Bastilha na Place de la Concorde, em Paris. Dois anos depois, Jarre se tornou o primeiro músico ocidental a se apresentar na República Popular da China, seguido por concertos extremamente ambiciosos no Docklands em Londres, no Centro Espacial da NASA em Houston, e na Universidade Estadual de Moscou (que contou com a participação da tripulação da estação espacial russa, Mir).
“Todos os grandes compositores franceses, alemães e italianos queriam expressar uma performance musical de uma forma mais teatral, como ópera”, sugere Jarre. “Então comecei a usar elementos digitais e arquitetônicos, diretores de fotografia e lasers. Também fui o primeiro a explorar o uso de grandes projeções em edifícios.”
Entre seus colaboradores estava o arquiteto Mark Fisher, que ajudou a construir “The Wall”, do Pink Floyd. Após seu show no Dia da Bastilha, Jarre foi encurralado nos backstage por um inglês animado, que era na verdade Mick Jagger, ostentando uma barba no estilo Robinson Crusoé: “E ele disse que nunca tinha visto nada parecido na vida”.
Alguns anos depois, os Rolling Stones contrataram Fisher para criar um cenário pós-apocalíptico para a turnê “Steel Wheels/Urban Jungle”. Fisher continuou a encher os palcos com aparelhos de televisão e um suporte gigante de limão para as turnês “Zoo TV” e “PopMart” do U2.
“Antes disso, a maioria das bandas de rock usava apenas luzes simples”, diz Jarre. “Não estou sendo arrogante sobre isso, mas contribuímos para a linguagem da performance musical moderna. A diferença com a música eletrônica é que a música, não o cantor, está no centro da performance”.
Destination Docklands, o filme do concerto de Jarre em 1988 no Royal Victoria Docks de Londres, encapsula essa era: Jarre, de terno de grife, empunhando seu “keytar” em um palco gigantesco, cheio de tecladistas, dançarinos, um coral, o convidado especial Hank Marvin (guitarrista do The Shadows) – tudo metralhado por lasers, projeções de luzes e fogos de artifício explodindo.
“Olhando para trás, foi um momento exagerado os anos 1980”, ele admite. “Foi extremo e ultrajante, e eu provavelmente perdi um pouco de perspectiva, especialmente para alguém que escreveu Oxygene em sua cozinha.”
Jarre finalmente percebeu que os dias de “produções massivas e sair na estrada com 40 caminhões” não eram benéficos para sua vida pessoal ou sua criatividade. Será que ele já desejou poder ter compartilhado o fardo como parte de uma banda?
“Oh, não”, ele ri. “Olhando para meus colegas de banda, me sinto bem aliviado por não ter lidado com tudo isso. Mas houve momentos em que eu estava sendo bobo ou teimoso, e tive sorte de ter boas pessoas ao meu redor”.
Jarre continuou a encenar shows espetaculares ao vivo, fanfarrando o milênio entre as pirâmides de Gizé e, mais recentemente, em maio de 2024, encabeçando o Starmus Festival em Bratislava, Eslováquia, com Brian May do Queen, onde o show de luzes e laser foi visível das vizinhas Hungria e Áustria: “Mas, de um ponto de vista criativo, decidi que menos é mais.”
Hoje, Jean-Michel Jarre vive tranquilamente com sua quarta esposa, a atriz Gong Li, e sua coleção de troféus, que incluem o Embaixador da Boa Vontade da UNESCO, a Medalha Stephen Hawking para Comunicação Científica e um Prêmio MOJO pelo Conjunto da Obra, que ele recebeu em 2010.
Mas se ele agora faz parte do establishment que ele já enfrentou, ele não perdeu sua curiosidade sobre música ou tecnologia. Ele detestava o som do CD (“total desonestidade”) e se opunha à demonização da Internet pelo mercado musical. “Depois do Napster, a indústria fonográfica queria colocar adolescentes na cadeia e perdeu a calma.”
Em um momento em que figuras públicas diametralmente opostas como o magnata da mídia Rupert Murdoch e Thom Yorke do Radiohead se uniram para alertar empresas de IA contra violação de direitos autorais, Jarre admite que sua atitude em relação ao meio é “não convencional”.
Acima: Jarre se torna o primeiro músico ocidental a se apresentar na República Popular da China, 1981;
Abaixo: O LP de protesto Music for Supermarkets e o single do The Who, uma de suas influências
No entanto, a perspectiva de simplesmente enviar uma versão digital de si mesmo para se apresentar, à la ABBA Voyage, não o atrai.
“Quero me afastar da estética dos videogames ou desenhos animados”, ele diz. “E ter um sósia meu tocando dia e noite seria um truque”.
Em vez disso, ele vê projetos como Versailles 400 como o início de um novo capítulo. “É sobre criar seu próprio espaço virtual”, ele se entusiasma. “Música e arte podem fazer isso, mas agora é como o início dos filmes em preto e branco ou mudos. É disso que gosto neste momento, porque não sabemos o que virá a seguir, mas sei que será uma extensão da nossa imaginação”.
Jean-Michel Jarre nunca precisou ir à lua. Ele só teve que esperar que alguém inventasse a tecnologia. Então tudo o que ele precisa está aqui na Terra.
TARIFA CIENTÍFICA
Seis saltos gigantes por Jean-Michel Jarre. Escolhidos por John Aizlewood
OXYGENE (Polydor, 1976) ⭐⭐⭐⭐⭐
O Tangerine Dream criou um público de álbuns para a música instrumental com teclados. Hot Butter e a banda francesa Space tiveram singles de sucesso, mas as seis partes de Oxygene foram um gigante global com vários milhões de vendas, coletivamente um pai fundador da eletrônica popular. “Part IV” foi o single de sucesso, mas os seus pares tinham profundidade e durabilidade.
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EQUINOXE (Polydor, 1978) ⭐⭐⭐⭐⭐
Gravado – como foi Oxygene – no estúdio caseiro de Jarre, o sucessor sonhador de oito segmentos era um todo mais coerente, vagamente concebido em torno de um dia na vida de alguém que pode ou não ter sido Jarre. A linda e longa “Part 7” mostrou que ele podia seduzir o coração e também a cabeça.
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ZOOLOOK (Polydor, 1984) ⭐⭐⭐⭐
O pico da fase de sampling de Jarre. Ao lado de convidados como Laurie Anderson e Adrian Belew, Jarre sampleou línguas do aborígene ao turco e ruídos cotidianos de todo o mundo para construir uma miscelânea de sons. Os resultados fundiram o tradicional e o étnico com sintetizadores futuristas, e soaram como nada mais no cânone de Jarre.
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RENDEZ-VOUS (Polydor, 1986) ⭐⭐⭐⭐
As seis partes do Rendez-Vous de Jarre, quarto número 1 francês, foi uma redução imperial de seus pontos fortes. O saxofone em “Last Rendez-Vous” deveria ser gravado pelo astronauta Ron McNair no espaço. McNair faleceu no desastre da Challenger, o músico francês Pierre Gossez o substituiu e a coda assombrosa era Jarre em seu momento mais pungente.
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ELECTRONICA 1 – THE TIME MACHINE (Columbia, 2015) ⭐⭐⭐⭐
Embora nunca tenha recebido os níveis de prestígio do Kraftwerk, a reputação de Jarre cresceu ao longo das décadas. Quando chegou a hora de colaborar, diversos artistas como Moby e Pete Townshend atenderam ao chamado. As forças melódicas de Jarre permaneceram inalteradas, os convidados trouxeram diferentes abordagens e tudo estava bem.
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VERSAILLES 400 (Columbia, 2024) ⭐⭐⭐
Uma celebração do dia de Natal de 2023 e do 400º aniversário da primeira visita do futuro Luís XIII ao pequeno pavilhão de caça que seria transformado no magnífico Palácio de Versalhes. Uma gloriosa carreira ao vivo que vai de Oxygene ao Epica de 2022. Mesmo sem os espetaculares efeitos visuais na Galeria dos Espelhos de Versalhes, é um sucesso.
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Fonte: Mojo
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