Crônicas

Estará a força de Jarre em seus cabelos?

Por Renato Mundt

Passou-se um breve momento apocalíptico, uma disjunção dos astros do Cosmo ou a tempestade desértica cujos suspiros dos grãos de areia nos cegaram o poder crítico de apreciar um bom cálice de vinho ou mais um trabalho de Jean Michel Jarre, cujos longos cabelos parecem fazer ressurgir das cinzas, o seu poder transcendental da criação de paisagens sonoras, a exemplo dos registros de mais de 20 anos do país da Grande Muralha, considerados por muitos, uma obra obrigatória, mesmo para quem não aprecia deste cálice de música eletrônica.

Em seu novo AERO é lançado no ar a Antologia de todo um processo de pesquisa dos Eletrônicos iniciada nos tempos de G.R.M (Group de Recherses Musicales) e tornando-se lapidada, Reestruturada, até mesmo atualizada; através dos tempos e da vontade dos Deuses ou do Deus que concede o poder divino de revisar sua obra-prima Original; poder este comparado ao do cineasta George Lucas em seus originais da primeira trilogia de “Guerra nas Estrelas“, cujas críticas e polêmicas pairam na atmosfera de admiradores ou não do conjunto da obra.

No contexto geral o resultado de AERO beira o comum ato de apontar um lápis até que sua ponta se quebre, ou seja, coeficiente da busca do Homem pela perfeição com o resto destruição; porém ressalta-se um bom argumento à narrativa sonora de “Oxygene 2“, “Equinoxe 3“; enquanto a odisséica “Oxygene 4” jamais terá seu brilho sublime superado. A faixa título até pode lembrar o espírito empreender e criativo do maestro de seus tempos áureos; já “Aerology” remete uma anedota à “The Last Rumba” e “Aerozone” – encerrando a nova trilogia – nos transporta a um tom nostálgico de “Music for Supermarkets 6“, que na verdade nunca existiu.

Mesmo assim, há pequenas nuances do álbum que nos lança as lembranças do período apocalíptico vivenciado por Jarre (cabelos curtos) no final dos anos 1990, que se assemelham a uma agulha passando por velhos sulcos deteriorados das trilhas do vinil trazendo à tona feridas “TeKanianas” de um passado já sombrio. Talvez se não existisse tal passado, o resultado do DVD AERO teria sido um composto de videoclipes ou Concerto de Imagens apreciados por vários pares de olhos, ao invés de um único par – mesmo com toda prerrogativa poética e artística – o qual testemunha àqueles que assistem o par de olhos (da Dalila do Sansão das melodias eletrônicas) deste novo trabalho Jarreano.

Renato Mundt é Jarrefan, Publicitário, Mestre em Comunicação Social pela UNIP, com uma dissertação sobre o aspecto criativo no trabalho de Jean Michel Jarre.

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Minha busca por outros Jarrefans brasileiros

Por Leonardo Prata Jammal

Estamos no início de 1996. Eu acreditando possuir todos os discos de Jean Michel Jarre me perguntava: por onde anda o cara? A minha única esperança era o programa de TV France Express que assistia com freqüência para poder obter alguma notícia do meu ídolo. Como sempre acontecia, a apresentadora lia ao final do programa, algumas cartas de telespectadores. Eu, com o controle do vídeo na minha mão, prestava atenção na leitura. Até que certo dia ela falou: “mago dos teclados”. Eu imediatamente apertei REC. Ela estava lendo uma carta de um fã-clube que pedia para que o especial sobre Jean Michel Jarre fosse reprisado. E eu nunca vi esse programa. Anotei o endereço do cara e imediatamente escrevi uma carta. Coloquei no correio e fiquei na espera. Será que ele responderia? Para minha surpresa ele respondeu. Armando Heilmann de Itaiópolis (SC) me contou que o fã-clube não existia mais. Era composto por 22 pessoas que faziam uma banda cover do Jarre, mas alguns foram estudar em outras cidades, outros foram para o exército e só sobraram dois. Foi através do Armando que tomei conhecimento do álbum Hong-Kong e da revista Conductor of the Masses. Foi o meu primeiro contato com outro Jarrefan.

No ano seguinte, estava folheando uma edição da revista ÁUDIO NEWS e percebi que muitos leitores enviam cartas para entrar em contato com outras pessoas para trocarem idéias sobre artistas, equipamentos de som, etc. Resolvi arriscar. O resultado foram cartas do Marcos Ferasso de São Miguel d’Oeste (SC), Márcio Cavalcante dos Santos do Guarujá (SP), Luiz Fernando de Almeida de Belo Horizonte (MG), Édson Rios da Silva de Camaçari (BA), Pedro Barbosa Moris de Brasília (DF), Hélio de Jesus Leite de Osasco (SP), Guilherme Marchiori de Colatina (ES) e André de Volta Redonda (RJ). A maioria escreveu três ou quatro cartas, apenas o Marcos escreveu muitas vezes, mas eu tenho todas as cartas guardadas até hoje.

Com a publicação das cartas do Renato Mundt e do Ricardo Alves de Melo na revista COVER TECLADO naquele mesmo ano, conheci o Jarrefan Brazil do qual eu tenho o imenso prazer de participar dessa comunidade “jarreana” até hoje.

Leonardo Prata Jammal é Jarrefan desde 1986

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O conceito de “SON ET LUMIÈRE” para os concertos de J.M.Jarre

“Son et lumière” é uma expressão francesa que poderia ser traduzida literalmente como “som e luz”, mas acabou com o tempo fazendo parte da cultura popular assim como “Enfant terrible”, “Déjà vu”, “Voila”, “C’est fini”, “C’est La vie” entre outras expressões que geralmente são usadas sem serem traduzidas.

Concerto “Rendez Vous in Lyon” – JARRE – 1986

Acima de tudo, “Son et lumière” é um conceito para um determinado tipo de show ou evento, geralmente noturno, que normalmente é apresentado em lugares abertos na maioria das vezes e de grande significância histórica. Em alguns casos existem a presença de atores e dramatizações além de efeitos de laser, projeções e shows pirotécnicos.

Château de Chambord

Este conceito foi criado nos anos 50 pelo francês Paul Robert-Houdin, curador do Château de Chambord, onde foi implementado o primeiro concerto “Son et lumière” no mundo em 1952. Em 1961, o conceito passou a ser usado em apresentações nas Pirâmides de Gizé no Egito. O conceito fez tanto sucesso na França, que uma média de 50 shows passaram a ser produzidos por ano usando este formato em vários lugares históricos como o Vale do Loire, o Palácio de Versailles e o Les Invalides de Paris.

Pirâmides de Gizé – Egito

Por fim, o conceito atravessou fronteiras e passou a acontecer em outros países como Estados Unidos, Inglaterra, Egito, Índia e outras partes do Globo. Algumas bandas de rock e artistas pops como o Pink Floyd, U2 e Madonna, também adotaram o conceito em seus shows.

“Oxygene in Moscow” – Jarre – 1997

No Brasil, não se tem uma ideia ainda dos primeiros eventos usando o conceito “SON ET LUMIÈRE”,mas um dos mais famosos do país ocorre todos os anos durante as festas de fim de ano na capital do Paraná, Curitiba. Um coro infantil do Banco HSBC (antigo Bamerindus) com 160 crianças que se apresentam todos os dias nas janelas do Palácio Avenida, às 20h30. Essa apresentação já é uma das tradições natalinas da cidade, e é realmente muito bonita de se assistir.

Palácio Avenida – Curitiba – Brasil

A primeira apresentação ocorreu em 1992, como parte do projeto “Schiavon In Concert” do tecladista do RPM, Luis Schiavon, patrocinado pelo antigo banco Bamerindus e contava com 5 lasers, diversos super projetores que lançavam imagens sobre prédios além de inúmeros outros efeitos especiais no palco e nos prédios próximos. A parte musical era feita por 3 tecladistas e 2 vocalistas e era baseada em adaptações de peças eruditas, musicais da Broadway e temas de cinema.

Segundo o próprio Schiavon, ele fez vários destes shows na Região Sul do Brasil e uma apresentação em São Paulo, sendo que a apresentação de Curitiba foi a última da turnê.  Tudo patrocinado pelo Banco Bamerindus.

Fonte: Wikipédia / Luis Schiavon

Ricardo Melo – Analista de T.I. – Jarrefan desde 1986 – Co-Fundador do Jarrefan-Brazil (1997) – Esteve no Concerto de Mônaco (2011) onde entregou pessoalmente uma placa homenageando o artista.

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