SÉRIE ÁLBUNS PERDIDOS PARTE II: MUSIC FOR SUPERMARKETS COMPLETA 30 ANOS

Em janeiro deste ano, iniciamos uma série intitulada Álbuns Perdidos, onde comentamos sobre gravações que foram realizadas (ou não), mas que nunca chegaram ao público oficialmente. Na primeira parte, aproveitamos uma postagem no Facebook oficial do ex-le tribu Francis Rimbert, e comentamos sobre o álbum “Experimental 2001”. Nesta segunda parte, vamos contar a história do álbum “Music for Supermarkets” ou “Musique pour Supermarché” (em países de língua francesa) que completa 30 anos neste 6 de julho.

Jarre e Charlotte presentes na destruição de Music for Supermarkets em 1983

Corria o ano de 1983, Jean Michel Jarre já era um artista de renome e bastante respeitado na Europa (fazia pouco tempo que havia se tornado o primeiro músico ocidental a tocar na China Comunista, que rendeu um álbum duplo de bastante sucesso). Ele foi convidado por um jovem artista e amigo pessoal chamado Jean-Claude Riedel para compor a música de fundo como trilha sonora para a exposição de arte “Orrimbe Show”, cujo tema era supermercados.

Jarre e Charlotte presentes na destruição do álbum 

Jarre concordou e entre fevereiro e maio de 1983, compôs o álbum “Music for Supermarkets”, com a ajuda de Michel Geiss, que gravou uma fita com sons vindos de um supermercado francês. A música foi usada na exposição que ocorreu entre 2 e 30 de junho de 1983. Quem visitasse a Expo, poderia escutar o álbum que era inédito até então.

As obras de arte em exposição no “Orrimbe Show” foram leiloadas posteriormente. Inspirado nisso, Jarre decidiu que a música que acompanhava a exposição poderia ser uma peça única de arte, e assim decidiu que a gravação teria apenas uma cópia. Única e exclusiva que seria prensada no formato LP e leiloada no Hotel Drouot.

“Uma única cópia para um único comprador, como uma pintura com um único dono”, disse Jarre. A gravadora ficou horrorizada. “Todos os presidentes das gravadoras ficaram chocados, e meu chefe [Francis Dreyfus] em particular”. Mas ainda assim, Dreyfus concordou em prensar uma única cópia do álbum e destruir suas fitas principais. Jarre anunciou o leilão ao público. A mídia ficou animada – era a primeira vez que algo assim acontecia. “Mostre-nos pelo menos uma pequena parte do álbum”, diziam os jornalistas. Jean-Michel sorriu e ligou um gravador de fita para carretel que tocava algo diferente de Oxygène.

Jean-Michel chega ao Hotel Drouot para o leilão de Music for Supermarkets

No dia 6 de Julho de 1983, Jarre mandou queimar as fitas em frente às câmeras de TV e se escondeu nos bastidores, mas Charlotte Rampling estava observando tudo. A gravação original virou cinzas e restou apenas uma cópia única. E então, o leilão do álbum começou: a partir de 60 francos, o álbum rapidamente atingiu números de quatro dígitos. “Quem vai dar mais? Você? Ou você?… Ok… Três, dois, um, VENDIDO”. Music for Supermarkets foi vendido por 69.000 (em torno de 10.500 Euros hoje). Arrematado por um Senhor cujo primeiro nome era “Gérard”. Segundo foi informado, ele adquiriu o disco como uma forma de agradecimento, pois havia sofrido um acidente de carro anteriormente e acordou do coma após uma experiência de quase morte escutando “Souvenir of China” no rádio.  

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A capa do álbum foi feita por Bernard Beaugendre e a arte do gatefold  foi projetada pelo próprio Jarre. Ele teve uma ideia de colocar onze fotos polaroides, mostrando o processo de criação do álbum: a partir de um retrato do Jean-Michel, passando pela gravação de som ambiente de supermercado, prensagem, uma foto do Hotel Drouot até chegar em um espaço em branco, reservado para o vencedor do leilão colocar sua foto com o álbum em mãos e abraçando o Jarre.

Quando Jarre anunciou que um álbum de meia hora seria colocado em leilão, ele prometeu que iria tocá-lo em uma estação de rádio – e que seria a única vez que todos ouviriam o que estava gravado no disco. Às 22:30, quando o leilão acabou, Jarre transmitiu o LP na íntegra na Radio Luxembourg. O locutor introduziu o início do Lado A e a mudança para o Lado B. Não está claro se Jean-Michel fez de propósito, mas ele escolheu uma estação AM onde o sinal está sujeito a inconveniências e ruídos, como as interferências de outros tipos de ondas eletromagnéticas, fazendo com que o som chegue com uma qualidade inferior ao ouvinte (em oposição ao FM). Antes do início da transmissão, ele pediu aos fãs: “Piratez Moi! (Pirateiem isso!)”.

Valérie-Anne Giscard d’Estaing (filha mais velha do ex-Presidente da República Francesa, Giscard d’Estaing), Bernard Fixot
(editor e fundador da “XO Éditions” e da “Bernard Fixot LLC”) e Charlotte durante o leilão de Music for Supermarkets

O destino atual da cópia única é incerto. Em 2007, chegamos a publicar informações de que o LP está na posse de um terceiro comprador sem identificação ainda.

Monsieur Gérard após arrematar a única
cópia do álbum

Reportagem da TV francesa exibida um dia antes do leilão:

Quatro das faixas de Music for Supermarkets foram reaproveitadas nos dois álbuns seguintes de Jean-Michel Jarre:

Music for Supermarkets Part 2: reaproveitada em “Fifth Rendez-Vous (Part 3)” do álbum Rendez-vous (1986).

Music for Supermarkets Part 4: reaproveitada em “Blah Blah Café” do álbum  Zoolook (1984).

Music for Supermarkets Part 6: reaproveitada na segunda metade de  “Diva” do álbum  Zoolook (1984).

Music for Supermarkets Part 7: reaproveitada no início e no final de “Ethnicolor II” do álbum Zoolook (1984).

Fontes: Wikipédia / zoolook.nl

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Marcos Paulo
Fã Clube criado em 1997 nos primórdios da internet no Brasil. Buscamos sempre a realização de ao menos uma apresentação do Maestro Jean Michel Jarre em nosso país.