FALECEU PIERRE HENRY (1927-2017) – MESTRE DE JARRE NO GRM

Jarre com seu ex-mestre no GRM, Pierre Henry.

Pierre Henry (1927-2017)

Uma notícia triste. Faleceu no último dia 6 de julho de 2017, aos 89 anos, o músico francês Pierre Henry. Henry foi músico vanguardista e um dos pioneiros da chamada “musica concreta”, que revolucionaria posteriormente a música eletrônica e mundial. A “Música Concreta” foi uma corrente musical de composição que criava peças musicais a partir de sons “existentes” como apitos de trem, batidas em objetos metálicos ou cantos de passarinho. A pesquisa de Henry é precursora de métodos e técnicas que hoje são parte integrante do processo de composição da música pop como o sampling. Jean Michel Jarre o tinha como um dos seus principais professores, junto com Pierre Schaeffer no GRM, ajudando-o a melhor compreender sua paixão pela música eletrônica.
Nascido em Paris, França, em 9 de dezembro de 1927, Henry começou a fazer experimentos musicais com vários objetos, aos 15 anos. Ele era fascinado com a integração do barulho dento da música. Entre 1938 e 1948, estudou no Conservatório de Paris com os professores Nadia Boulanger, Olivier Messiaen e Félix Passerone. Em 1948, Henry foi trabalhar no estúdio Club d’Essai da ORTF, emissora estatal de rádio e TV. Lá conheceu Pierre Schaeffer, engenheiro e musicólogo que vinha experimentando sonoridades produzidas por meio de fita magnética, aparelhos elétricos, equipamentos de áudio. Os dois começaram a trabalhar juntos em composições eletroacústicas.

Pierre Henry e Pierre Schaeffer no GRM.

Uma de suas primeiras colaborações foi “Symphonie Pour Un Homme Seul”, composta em 1949 e apresentada ao público em 1950. A música é uma montagem de sons aleatórios emitidos por pessoas. Em 1951, Schaeffer batizou essa nova abordagem criativa ao lançar o Grupo de Pesquisa de Música Concreta dentro da estrutura da emissora. Henry seguiu trabalhando com ele e em composições solo até 1958. A partir de meados da década de 1950, começam a sair coletâneas reunindo composições concretas, sendo a grande maioria das faixas de autoria de algum dos dois Pierres ou dos dois juntos. A trilha para o curta-metragem “Astrologie ou Le Miroir de la Vie” (astrologia ou o espelho da vida, em tradução livre), do diretor Jean Grémillon, foi sua primeira colaboração para filme. Ele assinaria um total de 30 trilhas para dança, teatro e cinema em sua carreira. Uma de suas parcerias mais conhecidas foi com o coreógrafo Maurice Béjart, com quem trabalhou em 15 projetos, entre eles o espetáculo “Messe pour le temps présent” (“Missa para os Tempos Presentes”), que estreou em 1967 na França. Na trilha para o balé, aparecem tentativas do compositor de se aproximar de uma linguagem mais pop. Entre elas está a música “Psyche Rock”, que viria a se tornar uma de suas obras mais conhecidas. Henry depois trabalharia com a banda de rock psicodélico Spooky Tooth.

Na década de 1990, “Psyche Rock” foi redescoberta por DJs e ganhou remixes novos, incluindo um do superstar das picapes Fatboy Slim. A música seria ainda inspiração da música-tema do seriado animado “Futurama”, de Matt Groening (autor de “Os Simpsons”). Henry seguiu produzindo obras pelas décadas de 1980 e 1990.

Pierre Henry em 03/01/1981

A música concreta desenvolvida por Pierre Henry e Pierre Schaeffer exerceu forte influência na música pop e no rock dos anos 1970 e 1980. Os Beatles, em especial, incorporaram suas técnicas em algumas de suas músicas, como o som que toca de trás para frente em “Tomorrow Never Knows”. A faixa “Autobahn”, hit do Kraftwerk de 1974, se vale de sons de automóvel em sua introdução. Para além das influências pontuais, o trabalho dos compositores de música concreta foi importante no desenvolvimento de técnicas e tecnologias usadas nas décadas seguintes em estúdios de gravação e fabricação de sintetizadores, afetando, por consequência, a música popular como um todo. O exemplo mais evidente está no sampler, aparelho que permite a captura digital de sons e posterior manuseio de suas características, como afinação e timbre.
Falando à agência de notícias internacionais UPI, o compositor francês Jean-Michel Jarre disse: “Pierre Henry integrava ao lado de Schaeffer e (Karlheinz) Stockhausen o grupo dos grandes decifradores sonoros do século 20, que mudaram a forma de conceber a música, para Pierre Henry, a música não era feita apenas de notas musicais teóricas, e sim de sons como o ruído de uma porta, do vento ou da chuva.”
Para a FranceInfo, onde Jarre realizou uma Masterclass no dia 05/07:
“Pierre Henry é o pioneiro da música eletrônica, este é o avô absoluto de todos os DJ do mundo. Pessoalmente, é uma perda que me toca, porque era um dos meus mentores, um dos meus professores com Pierre Schaeffer [dentro do Groupe de Recherches Musicales – GRM]. Se eu estou aqui hoje isso é graças a ele.

Pierre Henry costumava dizer: “Eu não gosto das notas, as notas são boas para compositores” Ele foi o primeiro, com Pierre Schaeffer, que disse que a música não era só fez notas com base na teoria, mas sons e poderíamos sair com um microfone e ir salvar o som da chuva, vento ruído, e fazer música. é uma grande perda.”

“O GRM foi o primeiro estúdio no mundo de música eletroacústica e música concreta. Pierre Henry é o único que tem dedicado toda a sua vida à experimentação e à poesia. ele era um poeta, e em tanto um explorador de som. Ele inspirou o movimento electro, nomeadamente através da composição “Messe pour le Temps Présent” mítico que ele criou com Maurice Béjart para o Festival de Avignon em 1967. Ele foi alguém que sempre tentou estabelecer pontes com outras formas de expressão. É na medida em que se tem uma modernidade inquestionável e espero que iremos celebrar Pierre Henry, muito mais do que o fato no momento do desaparecimento Pierre Schaeffer.”


Nas Redes Sociais, Jarre ainda deixou a mensagem:

“Pierre Henry não está morto hoje, porque ainda pensamos que os seres que amamos são para sempre e são.Com Pierre Schaeffer, Pierre Henry sempre foi para mim, um pai espiritual e musical… tanto poeta como experiente, ele lançou as bases para o que eletro, a música acústica e eletrônica se tornaria para os séculos vindouros.
“Ele merece todas as massas do presente e do futuro.”

JMxx”

O ex-Le Tribe Michel Geiss também deixou a mensagem:

“De fato, notícias tristes! Pierre Henry foi um pioneiro da música eletroacústica e contribuiu para as novas formas de música que apareceram mais tarde.”

Em junho de 2015, durante uma premiação na França, Jarre se encontrou com Pierre Henry e tirou uma fotografia com o seu antigo mestre. Posteriormente Jarre disse que chegou a convidar Henry para participar de alguma forma do projeto “Electronica”, mas infelizmente, devido a saúde do velho compositor e o tempo de gravação de Jarre, o projeto acabou sendo adiado. Infelizmente…

Fontes: Jean Michel Jarre / Michel Geiss

http://www.francetvinfo.fr/culture/musique/jean-michel-jarre-pierre-henry-etait-le-defricheur-de-la-musique-electronique-le-grand-pere-absolu-de-tous-les-dj_2271699.html
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/07/06/Qual-a-import%C3%A2ncia-de-Pierre-Henry-pioneiro-da-m%C3%BAsica-concreta

http://www.tvi24.iol.pt/musica/morte/morreu-o-compositor-frances-pierre-henry

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/07/1898942-pai-da-musica-eletroacustica-e-avo-do-tecno-pierre-henry-morre-aos-89.shtml

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