Dez anos após a nossa homenagem para Jean-Michel Jarre em Mônaco, o Jarrefan Brazil consegue mais um feito histórico: um dos fundadores do nosso fã-clube, Dlaivison Ribamares, conversou com o tecladista francês por mais de 13 minutos, durante um chat realizado na tarde do dia 9 de setembro com fãs da França, Espanha, Chile, Dinamarca, Canadá, Reino Unido e claro, nós do Brasil. Fãs da Argentina e da Grécia, não conseguiram conexão e infelizmente perderam o chat.
Exatamente às 14:33 (horário de Brasília), Dlaivison foi chamado pelo Jean-Michel. Falando em francês e inglês, ele começou dizendo que estava representando o Jarrefan Brazil e que o fãs brasileiros estavam saudando Jarre pelo seu trabalho. Jean-Michel disse que há muitos anos vem tentando fazer concertos no Brasil, mas que por vários motivos diferentes isso ainda não foi possível. Mas ele está se dedicando a realizar um concerto por aqui e espera que isso se torne uma realidade após a pandemia.
Dlaivison continuou dizendo que os fãs brasileiros se sentem honrados pelo álbum Amazônia e perguntou se seria possível um concerto virtual na Floresta Amazônica. Jarre disse que isso seria brilhante e que ele já vinha pensando nessa ideia de realizar uma performance em ambientes naturais.
Uma das perguntas feitas pelos membros do Jarrefan Brazil foi sobre a restauração de seus concertos antigos usando a tecnologia da Inteligência Artificial. Jarre respondeu que a Inteligência Artificial vai aprimorar e melhorar os materiais existentes e não apenas criar novos, e que é algo que deve ser explorado nos próximos meses ou anos.
Dlaivison também perguntou sobre o futuro da música. Jean-Michel acredita que o futuro está em como ouvir música naturalmente. Na natureza não existe estéreo, tudo é mono. O estéreo é um processo artificial desenvolvido na década de 1940 para permitir o processamento de fase entre os canais esquerdo e direito. É por isso que ele lida cada vez mais com o som binaural. Para ele, este é o próximo passo na música e será um passo maior do que foi passar do mono para o estéreo. Ele também acha que a Realidade Aumentada é mais importante do que a Realidade Virtual, e que o futuro está aberto para tudo o que vier a mais.
A última pergunta do Dlaivison (também feita pelos membros do Jarrefan Brazil), foi se o Jarre pretende colaborar com algum artista brasileiro. Ele respondeu que ainda não apareceu nenhuma oportunidade até o momento, mas que a proposta está em aberto e ficaria feliz de realizar uma colaboração com algum artista do Brasil.
Jarre finalizou agradecendo ao Jarrefan Brazil por seguir o trabalho dele. Disse que adora o Brasil e isso significa muito para ele. Jean-Michel espera se juntar a todos nós, assim que esses tempos sombrios causados pela pandemia passar.
Veja abaixo a participação do Dlaivison no chat, já com as legendas em português:
COMO FOI O RESTANTE DO CHAT ?
Um dia antes do lançamento de Live in Notre-Dame VR – Welcome to the Other Side e do evento de promoção em Berlim, Jean-Michel respondeu a várias perguntas pelo Instagram, após o convite feito no dia anterior:
Primeiramente, Jean-Michel exibiu orgulhosamente o vinil (incluindo o pôster) e o box com o CD/Blu-Ray do concerto de Notre-Dame. Ele ficou muito satisfeito com o design e o trabalho da Sony Music.
“Welcome to the Other Side” é um projeto multimídia real. O concerto foi transmitido pela Internet, VR, televisão, redes sociais e rádio para todo o mundo. E assim ele achou interessante lançar o projeto em várias mídias. É o primeiro show VR a ser lançado em vinil. A versão binaural, que pode ser baixada usando o QR Code, também está disponível, assim como foi feito com o álbum Amazônia, e ele quer desenvolver isso ainda mais. Ele é um grande fã de sons onde é possível “mergulhar dentro” e acha que isso ganhará ainda mais popularidade no futuro.
Quando questionado sobre unir a sua imagem “real” na harpa laser com o ambiente virtual de Notre-Dame durante “The Time Machine”, Jean-Michel disse que, como muitas vezes é o caso, tudo começou com um problema: levar a harpa para um ambiente virtual. Então surgiu a ideia de aparecer como uma espécie de “holograma”. Quando ele começou a testar isso, funcionou bem e foi uma surpresa para o final do show. Foi bom poder “tocar” com ambos: o real e o virtual.
Não faltou a velha questão sobre o lançamento dos concertos antigos. Com o lançamento do Blu-Ray de “Welcome to the Other Side”, Jarre foi questionado se iria acontecer o mesmo com os outros concertos. De acordo com Jean-Michel, o problema é a qualidade. As antigas gravações, como a de Houston, são muito escuras e a qualidade não melhorou com o tempo. Isso é muito frustrante para os fãs e para ele. A sugestão de recriar esses antigos concertos em VR, como por exemplo Destination Docklands sem chuva ou o concerto do Egito sem neblina, seria interessante e divertida. Ao mesmo tempo, Jarre também é um pouco egoísta, e prefere fazer projetos completamente novos e não algo que já fez.
Além disso, a produção de uma filmagem em Blu-Ray é muito cara. Se um concerto é gravado para um Blu-Ray, é necessária uma equipe de produção completa, muitas câmeras, tudo tem que ser editado, etc. Para filmar uma turnê, muitas vezes tem que fazer gravações ao longo de vários dias. Por exemplo, há um bom filme sobre o concerto de Liebana para a televisão, e essa foi uma transmissão ao vivo que não havia sido ensaiada. Mas o resultado foi muito bom. Mas, para um Blu-Ray é necessário mais do que isso. O concerto de Notre-Dame foi mais fácil de produzir, uma vez que todos os detalhes, como por exemplo os ângulos das câmeras, foram perfeitamente controlados. Mas ele entende o desejo dos fãs e tentará publicar mais projetos em Blu-Ray no futuro.
Questionado se poderia realizar uma turnê em pequenos cenários, como aconteceu recentemente no Palais de l’Élysée, Jean-Michel disse que tudo foi uma espécie de pocket show. Era mais um set ao vivo do que um concerto em si. Mas ele poderia muito bem imaginar uma possível turnê.
Com relação ao repertório do concerto de Notre-Dame, Jean-Michel disse que queria um setlist com muita energia para o Réveillon, transmitindo alegria e esperança. Ao mesmo tempo, ele trabalhava no “Amazônia” naquela época, onde quase não há batidas e é algo completamente diferente. Ele gosta de passar de peças muito rítmicas para muito calmas, embora não goste do termo “ambiente”. Ele sempre aborda um projeto como uma trilha sonora para seus fãs e outras pessoas, dependendo do que deseja expressar. Para Notre-Dame, pareceu-lhe apropriado criar uma espécie de “hora da festa”.
Jarre foi questionado se gostaria de fazer mais concertos em VR nos próximos anos ou se ele perdeu o contato com o público e com os fãs. Jean-Michel disse que observa a VR como o cinema em seus primeiros dias. O cinema não substituiu o teatro e a VR não substituirá os shows. Ele está muito ansioso para retornar aos palcos na presença de um público “real’, e que a VR é apenas uma forma diferente de expressão, assim como lançar um álbum não é a mesma coisa que estar no palco. Ele espera poder realizar concertos com a presença de púbico novamente no ano que vem.
Jean-Michel também disse que está atualmente em negociações com a Sony Music para um possível lançamento de um álbum da Electronica Tour. Há uma boa gravação do concerto de Santiago do Chile, onde a atmosfera lá foi muito especial e a reação do público foi ótima.
Jean-Michel também respondeu sobre quais seriam seus conselhos para jovens músicos e produtores. Ele disse que atualmente é difícil para toda a indústria musical viver da música e que ele está muito comprometido com um pagamento justo para os criadores. Mas o que deve ser considerado como músico? Você tem apenas 12 notas disponíveis. E milhões de peças musicais foram criadas a partir dessas 12 notas. O fator decisivo para o valor da própria música não é o instrumento, mas o que vem de si mesmo. O mais importante também é acreditar em si mesmo. Além disso, você não pode agradar a todos e quanto mais cedo você parar de tentar, melhor. Aconselha a escolher cuidadosamente apenas um sintetizador (ou um plug-in) e a lidar com ele de forma extensiva e intensamente nos próximos seis meses, experimentado todas as possibilidades. Ele mesmo começou assim numa época em que quase não tinha dinheiro e quase não havia sintetizadores. No início, ele só tinha seu AKS e alguns pequenos órgãos. Então criou suas primeiras músicas por meio da conexão com dispositivos de efeitos e aprendeu mais durante esse período do que em qualquer outro momento posterior. O mais importante é mergulhar em um instrumento com o qual você tenha um relacionamento afetivo.
Sobre suas memórias do concerto de Notre-Dame nove meses depois, Jean-Michel disse que as memórias são obviamente muito diferentes das de qualquer outro concerto. Foi especial ver o “seu sósia”, e é como ter um “irmão gêmeo” como avatar. Ao mesmo tempo, ele estava ao vivo no estúdio, mas também ao vivo na frente de outros avatares. Ele gostaria de realizar mais projetos de VR, mas ao mesmo tempo, ele também quer voltar a fazer shows presenciais novamente.
Um concerto no Minecraft? Jean-Michel respondeu que esta é uma abordagem diferente de Notre-Dame. No Minecraft, tudo deve ser gravado com antecedência e, em seguida, inserido em um ambiente existente. Mas isso também é muito interessante. No passado, ele já havia discutido com a UBI Soft sobre uma colaboração, por exemplo, para Assassin’s Creed.
Sobre seu perfeccionismo nos shows, Jean-Michel disse que nas turnês sempre busca melhorar alguma coisa. Um show nunca é perfeito para ele. Você não precisa começar do zero todos os dias, mas precisa se questionar constantemente. Há alguma verdade no fato de que depois de um bom concerto você terá problemas no próximo concerto, porque subconscientemente toda a equipe, incluindo ele mesmo, assumiria que se estivesse tudo bem ontem, estaria tudo bem hoje também. E isso é errado. É por isso que ele gasta tanto tempo em cada soundcheck, melhorando as coisas. Para ele, uma turnê é como um animal vivo que você deve cuidar todos os dias.
A ideia de realizar concertos virtuais em lugares que não existem mais ou onde, por várias razões, não é possível se apresentar nos dias atuais, como por exemplo na Síria ou no Afeganistão é muito interessante. Jarre já está em negociações com a UNESCO sobre isso
2021 marca o 40º aniversário dos concertos na China e Jarre quer lançar algo para comemorar essa data. Ele está conversando com a Sony para ver o que pode ser feito.
Quando questionado sobre os planos do ABBA para uma série de concertos com avatares, Jean-Michel disse que tem grande respeito pelo ABBA e que conhece bem Björn Ulvaeus, que o substituiu em seu cargo na CISAC. Ele acha que a turnê do ABBA será um grande sucesso, mas há uma grande diferença para o concerto de Notre-Dame, porque este foi um evento ao vivo. O ABBA, por outro lado, enviará os avatares para o palco como hologramas na frente do público. Essa é outra forma de apresentar música. Jarre está mais interessado em misturar o físico e o virtual de uma maneira diferente. Ele prefere realmente estar no palco, talvez com elementos de Realidade Aumentada. Ele mesmo pensou em usar hologramas para a Electronica Tour, mas abandonou a ideia. Ser representado em um palco real é de alguma forma estranho e também tecnicamente difícil, mas ele tem certeza que isso será perfeito com o ABBA, porque eles são muito profissionais. Mas se a ideia é ficar em casa e mandar os avatares para o mundo, não é isso que ele quer.
A notícia de que Little Boots fará parte da banda ao vivo nos shows do ABBA como tecladista deixou Jean-Michel feliz. Eles são bons amigos e acha que Boots está pronta para tais compromissos.
Jean-Michel disse que o concerto de Notre-Dame o fez se sentir um iniciante novamente. Ele é visto como um pioneiro e, junto com os jovens que realizaram o projeto, todos se sentiram assim. Para ele, a VR é uma nova forma de se expressar e está se tornando cada vez mais importante. Foi um processo de aprendizagem para ele, ser capaz de fazer coisas que você não poderia fazer na vida real. Como por exemplo, não há gravidade no mundo virtual. É muito divertido e haverá muitas novas oportunidades no futuro.
Jarre está ciente sobre os aspectos ambientais de seus shows. Ele tenta fazer de tudo para neutralizar o carbono o máximo possível. Mas a coisa toda é muito complexa. Por exemplo, nem sempre faz sentido neutralizar as emissões de CO2 plantando árvores. Isso sempre depende do contexto. Às vezes é melhor ter uma perspectiva mais global e apoiar uma organização que cria um equilíbrio mais eficiente em outro lugar.
Sobre o Behind the Scenes no Blu-Ray de Notre-Dame, ele disse que está Ok, mas da próxima vez ele vai querer um Making of ainda mais extenso, olhando com mais intensidade junto com sua equipe. Infelizmente, isso não foi possível devido às limitações de tempo. Ele também recomendou ouvir a versão binaural, dizendo que não se trata de transferir música existente em estéreo para binaural, mas na verdade tem que compor a música especificamente para ela, assim como é feito para uma orquestra. Então ele gostaria de projetar o seu próximo álbum de estúdio especificamente com isso em mente.
Jarre respondeu porque o concerto de Notre-Dame teve uma duração tão curta. Há razões técnicas para isso. A tecnologia VR foi levada ao limite, pois enormes quantidades de dados foram gerados, porém a capacidade é limitada. Os 47 minutos foi o máximo possível com o VRChat.
Assista ao chat completo abaixo:
O Jarrefan Brazil agrade a todos que tornaram a participação do Dlaivison no chat possível:
Jean-Michel Jarre pelo convite e oportunidade,
Dlaivison Ribamares por ter traduzido, legendado e por ter conduzido tão bem a entrevista,
Marcos Paulo “Xerife” por chamar a atenção para o celular (talvez o Dlaivison não teria conseguido se não fosse essa preciosa dica),
Aos fãs Signe (Dinamarca), Lee Sainsbury (Reino Unido) e Gonzalo Canobra (Chile),
E finalmente aos fãs brasileiros por enviarem suas perguntas e acompanharem ao vivo o chat naquela inesquecível tarde.
Fonte: Jean-Michel Jarre
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