PSEUDÔNIMOS E COLABORAÇÕES DO PERIÓDO PRÉ-OXYGENE

Francis Dreyfus na época da “Disques Motors”, futura “Disques Dreyfus”

A discografia de Jean-Michel Jarre não começa com Oxygene em 1976. Assim que deixou o GRM em 1971, escreveu músicas e letras, para si mesmo e para outros artistas, muitas das quais resultaram em títulos que foram gravados e prensados ​​em álbuns e singles durante a década de 1970.

Desse período, foram lançados La Cage, o seu primeiro single em 1971, Deserted Palace, o seu primeiro álbum que abre a sua discografia oficial, lançado em 1973 e a trilha sonora do filme Les Granges Brûlées, publicada no mesmo ano.

Além desses lançamentos já conhecidos, Jean-Michel Jarre também gravou um certo número de singles mais obscuros e raros, muitas vezes experimentais, onde utilizou alguns pseudônimos no lugar de seu nome de batismo.

E finalmente, colaborou como compositor e letrista numa longa série de discos de outros artistas, desde singles de cantores pouco conhecidos até álbuns de estrelas da música pop francesa, incluindo Christophe, Patrick Juvet, Françoise Hardy e Gérard Lenorman.

TRIANGLE (1972)

Fundado em 1967, o grupo francês de rock progressivo Triangle viveu os seus dias de glória entre 1970 (com o sucesso “Peut être demain”) e 1973 com a seguinte formação: Marius “Mimi” Lorenzini (guitarra), Gérard “Papillon” Fournier (vocal e baixo), François Jeanneau (teclados e sax) e Jean-Pierre Prévotat (bateria).

O grupo assinou um contrato com a gravadora “Pathé Marconi”, a mesma que lançou “La Cage’. Provavelmente, foi nos corredores da Pathé que o grupo conheceu Jean-Michel Jarre, através do compositor Igor Wakhevitch. Igor colaborou com Jarre no balé Aor e o Triangle colaborou no álbum “Logos” de Igor.

Em 1972, os quatro membros do Triangle deram os retoques finais no segundo álbum do grupo. Eles pediram a colaboração de Jarre para duas das faixas do disco: LE MATIN DU PREMIER JOUR e LA RÉCRÉATION. O álbum foi relançado em CD no ano de 2010.

FREEDOM DAY / SYNTHETIC MAN (1972)

Ainda em 1972, Jarre conheceu Samuel Hobo, um professor, percussionista e amante de blues. Os dois começaram a conversar e Jarre convidou Hobo para seu pequeno estúdio caseiro onde existia um órgão Farfisa, um VCS3, um AKS e vários gravadores Revox. Foi lá que os dois criaram duas músicas: FREEDOM DAY e SYNTHETIC MAN.

Hobo escreve letras em um inglês fácil e Jarre tem prazer em mexer em suas máquinas. Basta dizer que nem as vociferações, nem as letras simplistas e ultra-repetitivas de Hobo (“Freeeee-free-freedooooom-freedom-freeeee-freedom daaaaay” e “I don’t want beeeee Synthetic maaaaan”) e nem o som excessivamente demonstrativo de pouca sutileza de Jarre, deixará o ouvinte com uma lembrança inesquecível.

No entanto, eles assinaram um contrato com o selo Disc’AZ e gravaram um single com as duas músicas e com duas capas diferentes, lançado na França e na Itália. Na capa, apenas uma foto de Samuel com o seu nome e o título das músicas. Jarre foi creditado na contra-capa pela sua música eletrônica, produção e regência.

Nas duas capas, o cantor de olhos esbugalhados fazia caretas, dando o tom desse single delirante. A capa francesa está assinada por Hélène Leduc, colega de Jarre no GRM e futura esposa de Francis Dreyfus, que também já havia desenhado a capa de “La Cage”.

POP CORN / BLACK BIRD (1972) 🇧🇷

Hélène Leduc era diretora artística do selo “Disques Motors”. Ela convence seu noivo e dono da gravadora, Francis Dreyfus, a contratar o jovem compositor Jean-Michel Jarre que acredita ser um músico promissor. Um contrato de exclusividade permitiu a Jarre adquirir equipamentos e a se dedicar à sua arte emergente.

As vendas de “La Caqe” não foram boas e Dreyfus exigiu um retorno do investimento. Após uma conversa entre patrão e empregado, ambos concordam em lançar um single com um grande potencial de vendas. Apostando todas as fichas, eles optam por lançar um cover de um sucesso mundial: POP CORN.

“Pop Corn” é um título composto em 1969 pelo alemão Gershon Kingsley (1922-2019). Aparece no álbum “Music to Moog by Gershon Kingsley” que foi lançado no mesmo ano nos Estados Unidos onde o compositor residiu. O título foi regravado em 1972 pelo grupo First Moog Quartet fundado dois anos antes por Kingsley para demonstrar ao público as capacidades do Moog. No mesmo ano, o grupo Hot Butter, formado por Stan Free (também integrante do First Moog Quartet), lançou uma nova versão. O disco rapidamente se tornou um sucesso mundial: 900 mil cópias foram vendidas somente na França. Diante desse sucesso, uma infinidade de capas, inclusive a de Jarre, invadiram as lojas. O sucesso desta música 100% eletrônica e instrumental talvez não seja alheio à contratação do músico pela “Motors”.

Usando o pseudônimo de Jammie Jefferson, Jarre adaptou esse sucesso ao seu gosto no pequeno home studio que montou no apartamento de sua mãe em “Issy-les-Moulineaux”. Entre seus instrumentos não há nenhum Moog, como afirmam os créditos do disco. Dreyfus estava, sem dúvida, tentando fazer um aceno (ou um argumento publicitário?) ao Moog de Kingsley. Na verdade, o compositor só tinha à sua disposição um órgão Farfisa e os pequenos sintetizadores modulares VCS 3 e AKS da EMS. Enfim, nessa hora quem vai discutir o nome de um sintetizador? “Pop Corn” foi para o lado A do single que recebeu o título de “Pop Corn Orchestra”, com uma capa simples, de cor verde, sem imagens ou fotos, para limitar os custos de produção do pequeno selo.

“Pop Corn” também foi lançado no Brasil pelo selo “Steam Machine” no ano de 1973, fabricado pela “Som Ind.Comercial” de São Bernardo do Campo, SP. Esse compacto é raríssimo, talvez um dos itens mais raros da carreira de Jean Michel Jarre (veja mais informações em RARIDADES E TESOUROS DA DISCOGRAFIA DO JARRE NO BRASIL – PARTE I)

Para o lado B, Jarre gravou uma música de sua autoria: BLACKBIRD com os mesmos instrumentos básicos. Essa faixa muito melódica é acessível a um público amplo. É o início do que será a assinatura de Jarre: uma melodia cativante o suficiente para dispensar palavras e toda uma série de efeitos eletrônicos escolhidos e salpicados de talento para excitar o ouvido e segurar a melodia por 3 minutos. A música também foi incluída no álbum “Deserted Palace” sob o título de “Bridge of Promises”.

Em 2011, “Blackbird” foi uma das faixas escolhidas para fazer parte da coletânea dupla “Essentials & Rarities”. Dois anos depois, foi incluída na coletânea francesa Cosmic Machine.

No dia 29 de março de 2024, a gravadora BMG Rights Management lançou o single em todas as plataformas de streaming (veja mais informações no Rápido & Rasteiro de março de 2024).

ZIG-ZAG DANCE (1972) 🇧🇷

ZIG-ZAG (ou ZIG-ZAG DANCE) ainda segue a veia “eletro simplista” de “Pop Corn”. Ainda é difícil ver “Oxygene”, lançado 4 anos depois, pois os sons são crus e a criação não é nada revolucionária.

A música foi lançada em single de 7″ pelo selo “Disques Motors” sob o título “ZIG-ZAG DANCE”. O disco traz a versão cantada por Samuel Hobo, com letras insignificantes no lado A e a versão instrumental que é um pouco mais interessante no lado B. Hobo adotou o pseudônimo de “Foggy Joe”, anunciado na capa roxa, livre de qualquer ilustração. Chama a atenção a frase “version chantée by Foggy Joe”, uma mistura de língua francesa com língua inglesa com o título “Zig-Zag DANCE” (e não “Zig-Zag Danse”), mostrando que Dreyfus visava o mercado internacional. Isto não é sem fundamento, já que o pequeno sucesso da faixa resultou em lançamentos em diversos países como na Alemanha, Espanha, Itália, Turquia e até mesmo no Brasil (veja mais informações em RARIDADES E TESOUROS DA DISCOGRAFIA DO JARRE NO BRASIL – PARTE I).

Em 1973, Samuel Hobo divulgou a faixa em programas de auditório da TV francesa, com bailarinas ao fundo. Apesar da música ser de autoria de Jarre, ele não aparece (pelo menos não foi filmado) nas gravações.

O sucesso da faixa fez com que ela fosse gravada por inúmeros artistas com vários nomes em vários países. Os discos lançados pelos grupos “Electric Choo Choo Band”, “The Superfly” e “Jo Sherman” são apenas covers produzidos por outras gravadoras. Os discos publicados com esses nomes não são de Jarre, ao contrário do que foi anunciado em muitas lojas de discos. A frase “Version Originale” na capa da versão do “The Superfly” é jogada de marketing que o próprio Jarre também usou para sua versão de “Pop Corn”.

“Zig-Zag” também aparece no álbum do filme “Les Granges Brûlées” lançado no ano seguinte. É um título já pronto que permitiu a Jarre completar seu álbum sem muito esforço, embora a faixa só apareça no filme quando Simone Signoret liga um rádio. Essa faixa foi escolhida para ser o lado A da versão canadense do single retirado da trilha sonora. A reedição em CD de “Les Granges Brûlées” lançada em 2003, permitiu ouvir o título de “Zig-Zag” em formato digital pela primeira vez. Curiosamente, o título não foi escolhido para as coletâneas “Essentials & Rarities” de 2011 e Planet Jarre de 2018.

HYPNOSE (1973)

Em 1973, Jean-Michel Jarre foi comissionado pelo famoso mágico iluminista Dominque Webb, para criar uma música cujo tema seria a hipnose, para ser usada durante os “Festivals de la Magie” na casa de shows Olympia, em Paris. O resultado foi HYPNOSE, um single composto por Jarre, cujo lado A é cantado por Webb e o lado B é a versão instrumental. Este single foi lançado na França no mesmo ano e relançado nas coletâneas “Essentials & Rarities” (2011) e Planet Jarre (2018).

Esta música reflete não só uma atmosfera mais sombria do que nas primeiras tentativas discográficas de Jean-Michel Jarre (e que aqui se enquadra no tema), mas também no fraseado reverberado do inspirado mágico.

Este é o terceiro single de Jean-Michel Jarre lançado pelo selo “Disques Motors” de Francis Dreyfus, depois de “Pop Corn” e “Zig-Zag”, mas é o primeiro em que seu nome verdadeiro aparece, já que nos outros, os créditos foram atribuídos a vários de seus pseudônimos.

Na capa, o olho direito arregalado e delineado com lápis preto do hipnotizador (sua marca registrada) acompanha visualmente o título e o nome do artista desenhados em letras de sangue distorcidas pela angústia como nos cartazes de filmes de terror da época.

CARTOLINA / HELZA (1974)

Usando o pseudônimo de 1906, Jarre gravou e produziu um single em 1974, intitulado CARTOLINA, sendo a faixa-título do lado A e do lado B uma composição de nome HELZA. Grande parte da produção musical de Jean-Michel até esta data foi puramente eletrônico e de sonoridade experimental. Essas duas faixas são de natureza diferente, soando bem típicas da época com baixo, bateria, um toque de guitarra e um sintetizador muito melódico.

Após uma breve introdução de bateria, é apresentada a melodia principal de “Cartolina”. É tocada num sintetizador com um som de solo deslizante e bastante robusto. Um baixo proeminente e uma guitarra elétrica ao fundo fornecem o resto dos instrumentos. A melodia é bastante simples, mas cativante. Em algumas partes, revestida com um som leve e ecoado, e uma guitarra elétrica adiciona variação adicional. Alguns sons oscilantes e um solo de guitarra concluem a faixa. Na verdade, Cartolina poderia facilmente ser imaginada como a música tema de uma série de TV americana comum de meados dos anos 1970, ou de algum filme de ação.

Enquanto “Cartolina” é uma música acelerada e com melodia proeminente, “Helza” é mais blues, com “groove” definido por guitarra, baixo e bateria. Para isso, um piano fraco toca uma melodia atraente. Segue-se uma seção apenas de bateria, dando à faixa uma percussão latina. A parte da melodia entra novamente, e o piano é acompanhado por uma flauta. A melodia é tocada repetidamente no final, com alguns efeitos sonoros encerrando a faixa à medida em que ela desaparece. As músicas deste single são divertidas, principalmente “Cartolina”. As duas não oferecem muito quando se trata de melodias elaboradas ou paisagens sonoras intrincadas, mas mesmo assim servem como peças musicais interessantes, e o single é um dos destaques do início da carreira de Jean-Michel Jarre.

LADY (1974)

Bill and Buster foi uma dupla britânica formada em 1971 por Billy Moeller (nome verdadeiro William Moeller) e Buster Meikle (pseudônimo de David Ian Meikle), ex-guitarrista do grupo Unit 4+2 (nº 1 na Inglaterra em 1965 com “Concrete & Clay”).

Na primavera de 1971, o grupo lançou um primeiro single intitulado “Hold on to What You’ve Got”, uma música lenta que fez sucesso, especialmente na França, durante todo o verão que se seguiu. Dalida (cantora e atriz egípcio-francesa) também fez uma versão cover com o título “La Rose que Je Veux”.

Depois deste sucesso, a dupla lutou para tentar voltar às paradas e por isso assinou um contrato com Francis Dreyfus e passou a fazer parte da “Disques Motors”. Dreyfus chamou Jean-Michel Jarre, então letrista de Christophe, para escrever a melodia da faixa LADY. A música foi lançado no lado A de um single em 1974 e foi um fracasso que levou à dissolução da dupla no mesmo ano.

JOLLY DOLLY (1974)

Bernard Madelin, também conhecido como Bernie Mad, foi um guitarrista nascido em 1954 na Bretanha. Seu pai, piloto de testes, morreu no ano em que ele nasceu, em um acidente de avião. Infeliz com o padrasto, Bernard passou a adolescência sozinho em seu quarto ouvindo discos: The Beatles, Rolling Stones, Cream, Led Zeppelin, Jimi Hendrix… Seu amor pela guitarra elétrica foi revelado ao ouvir um grupo amador que tocava “Le Pénitencier”. Começou a praticar aos 12 anos com seu primeiro violão recebido no Natal e depois formou uma banda no ensino médio. Logo fez amizade com o guitarrista Jean-Pierre Buccolo, do grupo “Mongol”, que se juntou a ele quando fundou o grupo “Blue Vamp”.

Blue Vamp teve uma curta duração (1972-1974) e era formado por Jean-Pierre Bucolo (guitarra), Helios Vidal (vocal), Jean-Pierre Bellanger conhecido como “Bel” (baixo), Bernard Madelin (guitarra) e Stéphane Ficarelli (bateria), em sua maioria, músicos iniciantes. Em julho de 1973, o grupo gravou um primeiro álbum homônimo de 9 faixas em Londres, sob o selo “Vamp Records” associado ao selo “Disques Motors” de Francis Dreyfus. A ilustração psicodélica da capa é de autoria de Bernard Beaugendre que também desenhou a capa do polêmico álbum Music for Supermarkets de Jean-Michel Jarre.

Foi nesta altura que Bernard Madelin conheceu Jean-Michel, naquela época um jovem compositor, letrista e produtor cheio de ambição, que começava a fazer nome após a sua frutífera colaboração com Christophe. Jarre procurava um guitarrista para ajudá-lo nessas experiências de estúdio.

“Nos corredores da nossa gravadora, frequentemente me deparava com um cara super bacana, muito profissional, que me incentivava com seus conselhos. Seu nome era Jean-Michel Jarre. Ele me perguntou se eu tinha algum tempo livre: ele procurava um guitarrista para trabalhar com ele, em seu estúdio, em músicas que ele compôs para Christophe, para terceiros ou para si mesmo. Aceitei e durante 6 meses, ele ia me esperar todas as manhãs às 8h30 na porta da minha casa (…) para me levar ao seu estúdio, montado na casa de sua mãe em Vanves, para trabalhar até as 18h30. Eu forneci a ele guitarras elétricas, acústicas e baixo”, comentou Madelin em uma entrevista de 2010.

Desses modelos experimentais nasceu o single “Cartolina/Helza”, cujos dois títulos foram gravados nos estúdios “Ferber”, covil de Christophe, em maio de 1974. Madelin forneceu guitarras e baixo. O disco foi lançado sob o pseudônimo de “1906” pelo selo “Disques Labrador” da Dreyfus.

Em junho de 1974, o produtor de Blue Vamp procurou um hit para impulsionar as vendas do álbum, que lutava para decolar. Era bastante natural associar o jovem talento de Jean-Michel Jarre ao grupo. Eles gravaram, ainda dentro dos estúdios “Ferber” de René Ameline, uma canção de rock intitulada JOLLY DOLLY, para a qual Jarre escreveu a música e a produção para eles. O texto é de autoria de Hélios Vidal. A música foi lançada no lado A de um single e no lado B, continha a última faixa do álbum, intitulada “L’Esprit de L’Homme”.

“Já estávamos com Jarre há alguns meses, trabalhamos juntos no conteúdo, e eu fiz minha parte de guitarra e também de baixo no estúdio (faltou energia ao nosso baixista). Foi em 1974, eu tinha 20 anos e estava nas nuvens!”, disse Bernard Madelin, na entrevista de 2010.

No entanto, a aventura do Blue Vamp terminou logo depois. Jarre recomendou Madelin para sessões de estúdio e shows com Christophe ou Vince Taylor, então o guitarrista conheceu Jacques Higelin (cantor pop francês que ganhou destaque no início dos anos 1970) que chama ele e seu amigo Louis Bertignac (guitarrista, vocalista e compositor francês) para fazerem shows no Olympia. Depois de fundar o grupo Gangster que abriu os shows do Telephone (banda de rock francesa formada em 1976) entre 1982 e1984, Madelin se distanciou do show biz para obter sua licença de piloto. Após uma longa expatriação no Canadá, ele retornou à França em meados dos anos 2000 para gravar e fazer turnês novamente até a sua morte em 22 de janeiro de 2014.

QUE VAS-TU FAIRE ? / LE COMPTE À REBOURS (1975)

Françoise Hardy é uma cantora francesa nascida em 17 de janeiro de 1944 em Paris, filha de mãe solteira e pai ausente. Esta difícil situação familiar desenvolve-se nos seus complexos e sentimentalismo que em breve marcarão as suas primeiras canções e depois toda a sua obra. Ela descobriu o rock no rádio e, aos 17 anos, ganhou um violão que aprendeu a tocar sozinha. Em 1961, ela fez um teste na “Disques Vogue” onde assinou um contrato. Ao mesmo tempo, ingressou no “Petit Conservatoire de Mireille”(programa francês de variedades de rádio e televisão, criado e apresentado na forma de uma aula de canto) para aperfeiçoar sua arte. Seu primeiro single foi lançado em 1962. Entre as 4 faixas está uma música que ela cantou uma noite na televisão: “Tous Les Garçons et les Filles”. O sucesso dessa música florida e nostálgica foi imediato: um milhão de cópias foram vendidas em poucos meses.

A nova ídola juvenil francesa também estava se tornando famosa na Europa e em lugares distantes como os Estados Unidos e o Japão, graças a um repertório em vários idiomas, realizando turnês (começando no Olympia em 1963) e fazendo algumas aparições no cinema. O seu companheiro, o fotógrafo Jean-Marie Perrier, molda o seu carácter envolvendo jovens designers da moda como Courrèges, Saint Laurent ou Rabanne. A partir de 1967, formou um casal glamoroso, mas tumultuado, com Jacques Dutronc, com quem se casou em 1981.

Françoise Hardy, Patrick Juvet e Jean-Michel Jarre

O final dos anos 1960 e o início dos anos 1970 foram marcados por um questionamento da sua carreira como artista: após incessantes digressões que a levaram até a África, decidiu abandonar os palcos e o cinema. Ela deu à luz a um filho, Thomas, em 1973, e se apaixonou pela astrologia. Gravou canções mais ambiciosas associando-se a diferentes autores e compositores que lhe deram faixas inesquecíveis como “Comment te Dire Adieu” (1969), de Serge Gainsbourg, e “Message Personnel” (1973), de Michel Berger, que relançou seu sucesso discográfico.

Foi assim que ela abordou um jovem letrista em 1975 que estava fazendo sucesso com seu trabalho para Christophe e Patrick Juvet: Jean-Michel Jarre, que demonstrava seu duplo talento como autor e compositor. Com Jarre, Hardy lançou o single QUE VAS-TU FAIRE ? na França, Itália e Portugal. Jarre é o compositor da faixa-título do lado A, e letrista e compositor da faixa do lado B, LE COMPTE À REBOURS.

“Gostei muito de trabalhar com Jean-Michel Jarre. Ele é caloroso, dinâmico e muito paciente. Ele sabe o que quer e atinge seus objetivos com a gentileza e o charme que sabemos que ele tem. Mas gravamos apenas duas músicas juntos: ‘Que vas-tu faire ?’ da qual ele compôs a melodia e eu o texto, e cuja atmosfera lembrava a de suas produções com Christophe, e ‘Le Compte à Rebours’ que não me dizia muito e que me deu problemas terríveis de implementação. O single não funcionou, não sei por quê. ‘Que vas-tu faire ?’ me pareceu um título muito forte, no qual eu dizia coisas que estavam no meu coração”, disse Hardy durante uma entrevista em 1986.

Em entrevista publicada no ano de 2016, Jean-Michel Jarre comentou: “Adoro a Françoise e me lembro das sessões em que ela apareceu de uma forma muito estranha: na época, ela era apaixonada por tricô. E, obviamente, ela já gostava de astrologia. Lembro que estávamos tão atrasados que terminei o arranjo na fase de masterização, o que é muito raro. Eu trouxe um órgão para a gravação. Só tive uma chance porque estávamos gravando o que seria o disco no estúdio de madrugada. Ela tinha uma peculiaridade: quando não gostava de uma música, ia para o rádio e dizia isso. Tive sorte dela ter gostado dessa.”

OUTRAS COLABORAÇÕES:

Christophe:
http://www.jarrefan.com.br/luto-adeus-christophe/

Patrick Juvet:
http://www.jarrefan.com.br/luto-morre-aos-70-anos-o-cantor-patrick-juvet/

Gérard Lenorman:
http://www.jarrefan.com.br/a-dificil-e-traumatica-vida-do-cantor-gerard-lenorman-que-foi-produzido-pelo-jarre-nos-anos-1970/

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