LUTO: ADEUS CHRISTOPHE!

Daniel Bevilacqua, conhecido como Christophe (ele escolheu esse nome artístico em homenagem à medalha de São Cristóvão que recebeu de sua mãe), nasceu em 13 de outubro de 1945 em Juvisy-sur-Orge (subúrbio de Paris), filho de um pai italiano que era um empreiteiro de alvenaria. Suas primeiras inspirações musicais foram Édith Piaf e Gilbert Bécaud, antes de descobrir o blues (com seus ídolos Robert Johnson e John Lee Hooker), e o rock (com Bill Haley, Little Richard e Elvis Presley). Ele começou a tocar gaita e violão e, em 1961, fundou Danny Baby and the Hooligans (“Danny” sendo uma referência ao seu primeiro nome Daniel), sua primeira banda aos 16 anos. Após o serviço militar, ele começou uma carreira solo e gravou em 1963, o single Reviens Sophie, que foi um fracasso. Em 1965, a balada “Aline” lhe trouxe reconhecimento e sucesso: ficou em primeiro lugar nas paradas na França, Espanha, Bélgica, Israel, Turquia e Brasil. A canção ultrapassou um milhão de discos vendidos, incluindo mais de 400.000 na França.

No início da década de 1970, sua popularidade diminuiu por um curto período de tempo, durante o qual ele deixa crescer um bigode que, com seus longos cabelos loiros, assinará sua imagem de amante latino.

Em 1971, Francis Dreyfus criou o selo Disques Motors, onde os álbuns de Christophe passam a ser lançados. Ele retornou às paradas com Mal e Mes Passagères, respectivamente, no mesmo ano, e Oh mon Amour, Main dans la main, Belle e Rock Monsieur em 1972. Foi então que Francis Dreyfus adicionou os serviços do jovem letrista Jean-Michel Jarre, com quem Christophe escreveu o álbum Les Paradis Perdus, muito influenciado pelo rock anglo-saxão da época (Pink Floyd, Lou Reed).

Jarre com Christophe

O sucesso de sua colaboração com Jarre se materializou em 1974, com o single e o álbum Les Mots Bleus, um dos auges da carreira de Christophe, o que lhe permitiu renovar seu público. Ele então se apresentou nos dias 26 e 27 de novembro de 1974, na casa de shows Olympia com ingressos esgotados. Dez das músicas tocadas nesses concertos, são de autoria do Jarre. Mas decepcionado com a falta de reconhecimento de sua contribuição para a carreira do cantor, Jarre logo se aproximou de um outro compositor-intérprete: Patrick Juvet. Em um momento de depressão, Christophe cai por um curto período de tempo no mundo das drogas.

Christophe e o seu piano voador nos shows do Olympia em 1974

Jean-Michel Jarre ainda escreverá, mas mais esporadicamente, algumas letras para Christophe, como Daisy e La Dolce Vita. Essas faixas, juntamente com outras mais antigas, vieram em 1977, num terceiro álbum conjunto.

Desde 1977, Jarre e Christophe não colaboraram. No entanto, eles se reuniram no palco do Teatro Marigny em novembro de 2010, para receber um prêmio do SACEM (Société des Auteurs, Compositeurs et Éditeurs de Musique – Sociedade dos Autores, compositores e Editores de Música), cada um em sua área. Em janeiro de 2013, Christophe recebeu Jarre em seu camarim no Olympia, e ambos planejam realizar novas parcerias. Em setembro de 2015, Jean-Michel Jarre finalmente anunciou que Christophe seria uma das colaborações no segundo volume de seu projeto Electronica, participando da música Walking the Mile.

Ao mesmo tempo, Christophe convida Jarre para participar de seu novo álbum, mas devido à falta de tempo por causa do projeto Electronica, Jarre participa apenas como autor da música Les Vestiges du Chaos.

No início desse ano, Christophe lançou um novo videoclipe de uma nova gravação da música Daisy junto com a modelo e atriz francesa Laetitia Casta. A letra dessa música foi composta por Jean-Michel Jarre em 1976.

“Tive altos e baixos”, disse em dezembro de 2019 para resumir sua carreira.

Christophe deu entrada em um hospital de Paris no dia 26 de março, sendo transferido posteriormente para Brest (oeste). A família não citou a Covid-19 e se limitou a dizer que a morte, ocorrida em 16 de abril, foi “consequência de um enfisema pulmonar”.

“Christophe se foi. Apesar da entrega incansável das equipes médicas, suas forças o abandonaram”, escreveram Véronique e sua filha Lucie em nota enviada à AFP (Agence France-Presse).

“Era mais que um cantor, era um alfaiate da canção”, disse Jean-Michel Jarre, lamentando o momento da morte: “É o desaparecimento de um membro da minha tribo, um amigo, um cúmplice único. O que é cruelmente irônico é que ele é um artista que praticou confinamento em sua vida. Penso em todos os dias e noites que passamos juntos no estúdio, sem sair, procurando o som final. Ele é realmente um artista de contenção, que costumava sair, claro, mas que vivia à noite e passava muito tempo em casa por horas trabalhando no estúdio”.

Para Jean-Michel Jarre, Christophe estava “fora do normal” e tinha “uma relação única com a linguagem”. “Ele não disse que era cantor, ele disse, eu faço barulhos com a minha boca”.  O letrista e compositor tenta traduzir essa identidade nas canções que escreveu para Christophe. “Comecei a escrever essas músicas com ele e para ele, porque você não conseguia encontrar alguém no estúdio que pudesse fazer as letras que combinassem com o que você queria expressar em seus álbuns. Fiquei preso a ele apenas para tentar traduzir o que era o DNA dele de forma embrionária e que ele explorou tanto até hoje”, lembra Jean-Michel Jarre.

“Quando escrevi essas músicas, estava pensando no Christophe. Eu basicamente fiz dele uma espécie de biografia de fantasia, esse personagem de um filme de Fellini, The Vitteloni, e os filmes de David Lynch ao mesmo tempo. Esse personagem é uma espécie de traficante pop, alguém que caça a vida”, descreve Jean-Michel Jarre.

“Não poderemos lhe dizer adeus por culpa deste maldito vírus”.

Nas suas redes sociais, Jarre prestou sua homenagem:

“Christophe, você se foi hoje à noite.. e hoje à noite são os Paraísos Perdidos.. Pensamos que as pessoas que amamos são eternas e são, e você é.. #Christophe # o último dos Bevilacqua”

Jarre na TV francesa comentando a morte do amigo:

R.I.P. Christophe (13/10/1945 – 16/04/2020)

Fonte: Agências internacionais

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