“SPECIAL SUMMER LIVE TOUR”: JARRE TOCA NA ARENA DE PULA

29/06/2025 – Por: Nikola Knezevic


Raros são os momentos em que o pioneiro da música eletrônica Jean-Michel Jarre embarca em uma turnê. Em sua oitava década de vida, ele tem se dedicado mais a projetos inovadores combinados com tecnologia moderna, o que faz com que suas apresentações sejam escassas. Quando ocorrem, geralmente são em ocasiões e locais especiais.

O concerto de Pula faz parte da sua nova turnê, a Special Summer Live Tour 2025, a primeira em quase dez anos. Mais uma vez, Jarre escolheu locais emblemáticos onde sua música pudesse alcançar um novo patamar. O local foi a Arena de Pula, um anfiteatro romano construído pelo Imperador Augusto – um dos maiores e mais antigos da Europa. Além da Arena de Pula, ele visitará o lendário Anfiteatro Degli Scavi em Pompeia e a Piazza San Marco na Itália, bem como o Palácio Real em Bruxelas. Trata-se de uma turnê europeia na qual ele se apresenta exclusivamente sozinho, atrás de um set de teclados, sequenciadores, plug-ins digitais, softwares, máquinas de ritmo e pads de sampling. O som que emanava de todos esses dispositivos variava ao longo do concerto, transitando da música ambiente ao seu característico som eletrônico, passando por techno e trance.

Jean-Michel se divertiu como um jovem, cercado por uma grande multidão hipnotizada que absorvia cada nota tocada e cada elemento do espetáculo visual preparado por sua equipe. Lasers, refletores, telas de LED, efeitos visuais especiais, robôs — teve de tudo durante essa apresentação impressionante, que também incluiu mensagens importantes sobre música, Europa, Croácia e o estado da sociedade. Até mesmo sobre Inteligência Artificial, quando, em tom de brincadeira (mas com bastante verdade), durante a execução da música “Robots Don’t Cry”, ele sugeriu que a canção poderia facilmente se chamar “Robots Don’t Cry So Far”.

Aos 76 anos, Jarre parece estar em ótima forma. O septuagenário decidiu usar no concerto, todo o conhecimento de seus “tentáculos robóticos” para dar nova vida a velhos clássicos, além de apresentar algumas criações eletrônicas dos últimos anos, como os álbuns Electronica 1 e Electronica 2, além dos lendários Oxygene, Equinoxe e Magnetic Fields. Ele chegou a mergulhar fundo em seu acervo e resgatou “Arpegiator”, que os cinéfilos conhecem do filme “Nove e Meia Semanas de Amor”, na famosa cena de sexo entre Kim Basinger e Mickey Rourke na escadaria sob a chuva. A música nunca foi lançada na trilha sonora do filme, estando disponível apenas no álbum ao vivo The Concerts n China, uma gravação dos icônicos concertos na China em 1981. Foi exatamente essa faixa que Jarre escolheu para contar sua história sobre os primórdios da música eletrônica, que, segundo ele, nasceu no Velho Continente. Ele a dedicou a todos os músicos eletrônicos da Croácia.

Um momento especial, ainda na primeira metade do concerto, foi a performance de “Oxygene 2”, quando ele ligou uma câmera em seu óculos para que o público, como destacou, pudesse ver o que ele “cozinhava em sua cozinha”. Alguns poderiam dizer que o veterano estava se exibindo, mas, tratando-se de um pioneiro da música eletrônica, qualquer exibição é bem-vinda. Seus movimentos no seu set de equipamentos foram realmente impressionantes — e hoje é raro encontrar músicos que toquem dessa maneira. Se houvesse mais músicos no palco com ele, a analogia seria ainda mais evidente, e a experiência, ainda mais rica. Mas essa experiência não foi menos incrível. Pelo contrário, foi ótimo vê-lo em ação.

Como mencionado, algumas músicas foram tocadas em versões remixadas ou modernizadas, como “Zero Gravity”, do Above & Beyond, e sua faixa mais famosa, “Oxygene 4”, em remix dos mestres do psy trance, o duo israelense Astral Projection. E por mais que hoje muitos tentem enquadrar a música — uma das mais importantes formas de arte — na cultura do cancelamento, gigantes como Jean-Michel Jarre rejeitam completamente essa ideia. Porque a música não tem fronteiras — ela conecta, não divide. Com esse remix, Jarre conectou habilmente suas obras modernas de techno e trance, de “The Architect” e “Exit” a “Stardust” e ao seu último álbum de estúdio, Oxymore, do qual ouvimos faixas como “Brutalism”, “Epica”, “Sex in the Machine” e a faixa-título. A fusão de techno e trance levantou a plateia, transformando o concerto em uma verdadeira festa eletrônica. Parte do público — mesmo em um evento majoritariamente com assentos — ocupou os espaços entre os setores e dançou ao som da estrela da noite. Lasers disparavam em todas as direções, efeitos de luzes iluminavam literalmente a Arena de Pula sob um céu estrelado, e Jean-Michel Jarre se divertia como nunca. Ele frequentemente dizia “obrigado, Pula”, e o que chamou a atenção foi que a maioria de seus discursos e mensagens foi traduzida para o idioma croata — um detalhe louvável, pois, às vezes, é difícil transmitir uma mensagem ao público local em outra língua com a devida clareza, sem qualquer tipo de censura.

À medida que o concerto se aproximava do fim, ouvimos cada vez mais de seus maiores sucessos. Embora ele tenha iniciado sua apresentação com o hit “Magnetic Fields 1”, também estiveram presentes “Industrial Revolution 2”, “Equinoxe 4”, “Equinoxe 7”, e ele nos surpreendeu no majestoso bis com “Rendez-Vous 4” e “Magnetic Fields 2”. O pedido de bis foi feito com aplausos e batidas de pés cada vez mais altos, em um ritmo crescente, até que Jean-Michel voltasse ao palco e selasse essa noite magnífica com toda a força da produção visual e um som impecável. Foi um grande dia para Pula — talvez a apresentação mais especial da história deste lugar — e que certamente ficará na memória de todos os presentes por muito tempo.

Fotos: ©Muhamed Talić

Fotos: ©Miro Majcen

REPORTAGEM DA TV LOCAL:

O próximo concerto será no dia 1º de julho na Place de Palais, em Bruxelas, capital da Bélgica, em frente ao Palácio Real.

Fonte: Music Box

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