THE MAKING OF WELCOME TO THE OTHER SIDE – PRIMEIRA PARTE
Maud Clavier foi o manager e diretor artístico do projeto Welcome to the Other Side. No seu site oficial, ele detalhou como foi a sua participação no concerto virtual de Jean-Michel Jarre, realizado no último Réveillon.
O PROJETO E A EQUIPE
“Para o Réveillon, Jean-Michel Jarre tocou seus teclados no Studio Gabriel. A apresentação ao vivo foi filmada, e além disso, seu avatar foi reproduzido durante a performance na Catedral de Notre-Dame reconstituída em Realidade Virtual. Sem falar no show de luzes na fachada da Catedral, também em CGI (imagens geradas por computador). O objetivo, foi criar um momento festivo em um mundo onde todos os encontros sociais estão proibidos. Seu show anterior se chamava Alone Together, e o desta vez, foi intitulado Welcome the Other Side. O primeiro, foi sobre estar sozinho, mas juntos. E esse, foi sobre estarmos juntos em diferentes mundos e dimensões.
No dia 31 de dezembro de 2020, às 23h24, o show começou com três streams diferentes: a fachada de Notre-Dame digitalizada, ao vivo no Studio Gabriel, e o interior de Notre-Dame em Realidade Virtual. Um total de mais de 100 pessoas trabalharam no projeto. Vou mencionar só os colaboradores do interior de Notre-Dame em Realidade Virtual.
“Entre os italianos, estão os responsáveis por montar tudo e colocar pra funcionar: Antony Vitillo (responsável pelo desenvolvimento principal do projeto), Lapo Germasi e Viktor Pukhov (seu parceiro), lidando com criação e integração em 3D. Entre os franceses, Louis Cacciuttolo (CEO da VRrOOm, a empresa que produz a parte VR do projeto), eu mesmo (sou o responsável tanto pela gestão de projetos quanto pela gravação de vídeo em VR e edição ao vivo), Vincent Masson (o artista responsável pelas animações em 3D) e claro, o próprio criador da festa: Jean-Michel Jarre. Da França também são Freddy Koné e Mohamed Marouene (managers da empresa SoWhen?). Entre os russos, Georgy Molodtsov (um ‘VR MacGyver’, que combina um papel de observador de tecnologia e co-diretor de vídeo VR) e Denis Semionov (responsável por criar um mundo original compatível com Quest). E do Reino Unido, Jvan Morandi (cenógrafo de Jean-Michel Jarre na vida real há cinco anos, é responsável pela iluminação no mundo virtual).”
Todo o show foi produzido pela cidade de Paris. O objetivo era fazer uma experiência virtual interessante, mas acima de tudo, que pudesse funcionar sem bugs! E fazer uma transmissão de TV que seria interessante também. Tudo sob a liderança de um Jean-Michel Jarre mais determinado e ambicioso do que nunca (digo isso, mas este é o caso de cada um de seus projetos. Ele considerou Alone Together como um experimento, e com Welcome the Other Side, ele queria oferecer uma experiência verdadeiramente mainstream que foi pensada em primeiro lugar para a TV).”
POR QUE EU?
“Eu e Jvan Morandini não trabalhamos no Alone Together. Então éramos os dois novatos. De minha parte, eu já tinha trabalhado com a equipe de Turim no festival de Veneza. Mas eu não tinha colaborado com as outras partes.
Originalmente, eu era mais especializado em fazer filmes 360°, mas foi durante a primeira quarentena, que descobri minha paixão pela VR social. Sonhei em dar esse passo, essa transição para universos feitos em imagens geradas por computador, mas não vi sentido embarcar em produções que duram dois ou até três anos, com distribuição limitada a uma elite em festivais.
Então eu explorei plataformas sociais, começando minha aventura no evento ‘Break Down These Walls’, dirigido pela VRrOOm. Eu conhecia Louis profissionalmente há alguns anos, e já tínhamos uma química: ele também vem do mundo das artes cênicas.
Portanto, era bastante natural que essa transição ocorresse, inicialmente trabalhando para outras pessoas, e depois aderindo ao VRrOOm.
Neste projeto, além de gerenciar a coordenação, Louis foi louco o suficiente para nomear Georgy e eu, como co-diretores do programa de TV. Um desafio que assumimos com grande interesse!”
MINHA EXPERIÊNCIA COMO MANAGER DO PROJETO
“Como mencionei, éramos uma equipe pequena para produzir a parte do interior da Catedral virtual. Essa parte ocorreu não só em Realidade Virtual, mas também foi transmitida em muitos canais de televisão e redes sociais.
Eu diria que minha principal missão, além do clássico trabalho de secretariado em organizar reuniões e verificar todos os aspectos do projeto e seu progresso, era atuar como um tampão entre os artistas e os desenvolvedores 3D, e designers gráficos de computação.
A principal complexidade deste projeto, foi encontrar um fluxo de trabalho que funcionasse, uma linguagem comum, e de satisfação para todos. Então Jvan e Vincent, tiveram que se dar bem com Lapo, Victor e Antony para seguir em frente.
Como o VRChat tem limitações bastante drásticas, Vincent e Jvan tiveram que trabalhar principalmente às cegas e, além disso, observar o peso de sua criação. Assim como nos videogames dos anos 80, onde os desenvolvedores tiveram que ir ao essencial para restrições de peso também. Não esquecendo da SoWhen?, equipe liderada por Freddy e Mo, que já tinham algumas noções sobre como adaptar seus avatares ao VRChat. Mas eles enfrentaram desafios maiores, e também estavam procurando um fluxo de trabalho eficiente com os desenvolvedores.
Todos saíram de sua zona de conforto!”
MINHA EXPERIÊNCIA COMO DIRETOR
“Sabíamos desde o início que o programa seria transmitido na televisão, e não queríamos uma transmissão com apenas 5 câmeras voltadas para o palco. A ambição era enorme, e eu estava pronto para assumir o desafio com Georgy Molodstov, apesar do fato de nunca ter trabalhado junto com ele, e nunca fizemos esse tipo de trabalho!
Georgy sempre fareja as boas fotos, encontrando os mais recentes plug-ins criados no Japão, que poderiam nos ajudar a fazer imagens mais cinematográficas. Durante suas investigações técnicas, explorei, em um nível artístico, cada canto e fenda de Notre-Dame.
No meu primeiro mundo de teste no VRChat, eu tinha um minuto da música Exit, com um avatar datado de 21 de junho, que parecia bastante desajeitado quando aplaudia, com 5 pontos de rastreamento, e sem qualquer público.
A partir daí, explorei cada canto da Catedral, pensei nas fotos que poderíamos fazer com nossas câmeras integradas no mundo VRChat (graças ao plugin Vstudio), com câmeras que giram ao redor do palco, e fotos de câmeras portáteis (graças ao plugin VRClens) para fazer close-ups.
Mas evitei close-ups nesses testes iniciais. Então, para tornar o corte final interessante (porque tivemos que mostrar algum progresso para a cidade de Paris), tirei fotos dos lustres, do teto, mosaicos e trajetórias lineares por toda a Catedral. Ah, uma gárgula, vamos atirar de lá!
E a sorte sorriu para mim: Jean-Michel Jarre aprovou minha primeira edição! Era exatamente o espírito que ele queria.
A partir daí, continuamos a trabalhar juntos. Fiz edições antecipadas para cada música. Georgy tirou algumas fotos, projetou algumas câmeras, aprendeu a lidar com o drone VRClens, e fizemos edições regulares para dar uma visão geral. Tive a impressão de viver um idílio sem fim, porque Jean-Michel Jarre parecia sempre estar satisfeito. Mas quanto mais o tempo passava, mais ele se tornava exigente. Sua lendária e interminável busca pela perfeição tomava conta.
E então, um dia fizemos um ensaio em condições ao vivo, tendo um avatar mais recente, com vinte pontos de rastreamento, uma multidão de figurantes, outra multidão de personagens animados fake para encher mais a Catedral virtual, e câmeras prontas. Tivemos três dias para treinar nestas condições com Georgy. Foi emocionante, novo e estressante. Estávamos procurando a melhor e mais eficiente maneira de trabalhar. No parallel, Jean Michel estava ensaiando sua performance ao vivo com o terno mocap, e todos no Studio Gabriel estavam ensaiando sua parte. Depois de três dias loucos, uma semana antes do show ao vivo, comecei a refazer algumas edições e algumas histórias, a fim de chegar o mais perto possível do que queríamos fazer para o show. A música de Jean-Michel Jarre é muito precisa e cronometrada, e os efeitos 3D também foram sincronizados. Então sabíamos que estávamos trabalhando num bom ritmo.
Resumindo: fiz três montagens que mostrei ao Jean-Michel, e ali, senti uma certa decepção. Mas ele não entrou em pânico. Eu acho que ele já experimentou muitos outros colapsos criativos.
Depois dessa primeira dor no coração, eu bebi três xícaras de café, peguei de volta meu cérebro, e decidi fazer mais duas edições dentro de uma hora. Eu arremessei minha cabeça, filmei sobre imagens sem o público, parti para conquistar Notre-Dame, e para reconquistar o que parecia ser minha mão artística.
Desta vez, ele parecia feliz, e me disse que eu tinha voltado aos meus sentidos.
No quarto dia antes do show, eu desembarquei no Studio Gabriel, um lugar mítico para a televisão. Conheci algumas das outras noventa pessoas mencionadas nos créditos do projeto, e a complexidade dos formatos, arquivos e softwares de TV. Descobri um mundo inteiro. E eles também. Só tivemos quatro dias para nos conhecermos, aprendermos a trabalhar juntos e a criar os sistemas.
Acima de tudo, conheci David Montagne, diretor de espetáculos ao vivo há mais de 20 anos. O Studio Gabriel é como o lar dele. Foi o grande maestro do show final, incluindo a performance ao vivo de Jean-Michel e o show na fachada.
Com dois dias para ir ao ar, foi uma loucura na mídia: até conheci Anne Hidalgo e o arcebispo (gerente da Catedral de Notre-Dame).
Eu descobri o mundo da multicam ao vivo, com todas essas telas ao meu redor. Me senti como em Minority Report, enquanto estávamos nos bastidores de uma velha indústria. Mas pra mim, é tudo novo!
Quanto a Julian Guttierez, ele é um grande expert do software de edição ao vivo, que nos permite editar nossas múltiplas transmissões. Eu tinha que entender essa linguagem ao vivo, de uma forma muito rápida, para não estragar tudo no dia do show.
Foi cercado por esta equipe amigável e benevolente, que eu grelhei meus últimos cartuchos de energia antes do grande dia.
No dia D, eu me diverti muito. Tudo ocorreu bem! A experiência VR não apresentou bugs, e nossos objetivos foram alcançados. Eu ainda estava lutando para perceber tudo o que eu tinha experimentado e alcançado!”
E JEAN-MICHEL JARRE EM TUDO ISSO?
“Quanto mais perto a data se aproximava, mais meu telefone tocava, em intervalos cada vez mais curtos. O mesmo nome é sempre exibido: Jean-Michel Jarre.
Divido meu tempo entre discussões sobre gerenciamento de projetos, e entrevistas com ele sobre produção de TV. No geral, não falamos muito e nos entendemos muito rapidamente. Então é muito fluido e agradável trabalhar com ele. Sinto-me encorajado nas minhas escolhas artísticas e, como resultado, estou pronto para investir ao máximo.
Ele também parece ser muito inspirado pela Cultura Pop, e mais particularmente, ficção científica. Meus filmes favoritos são ‘Sin City – A Cidade do Pecado’, ‘Uma Cilada para Roger Rabbit’ e ‘O Quinto Elemento’. Escolhas consideradas ingênuas e ridículas por muitos, mas não para Jean-Michel. Ele é um artista mainstream, e eu sou influenciado pela cultura mainstream. Então vamos lá!
O que mais me impressionou em Jean-Michel Jarre, é que ele é um empresário em sua carreira artística, gerenciando todos os aspectos dela. A música, é claro, mas sua imagem, sua visão… o que é tudo isso? Alguns aspectos políticos e diplomáticos. Ele busca entender todos os componentes do projeto, e se adapta rapidamente às restrições técnicas. Ao contrário dos artistas mais jovens com quem trabalhei, cercado de gestores por todos os aspectos de sua carreira, Jean-Michel está em todas as frentes, e lidera sua visão artística como arquiteto.
Além de ter uma visão ampla, ele tem muita energia, e é capaz de manter uma equipe de 100 pessoas acordadas e no topo de si mesmas. Ele nos força a superar a nós mesmos, e a sentir orgulho do trabalho realizado. Tenho muita admiração por ele, por seu perfeccionismo, e sua atenção aos detalhes que me levaram a ser a melhor versão de mim mesmo.
Agradeço ao Louis por confiar em mim, e a Jean-Michel Jarre, por me fazer crescer asas. Sua manager Fiona me disse: ‘Jean-Michel tira o melhor de você, circula muito rapidamente e empurra você para cima’. Quando ela tinha apenas 22 anos, Jean-Michel já estava pedindo a ela para tomar decisões importantes, na frente de um grupo de homens muito mais velhos do que ela.
Além disso, Jean-Michel está cercado de mulheres. Não porque ele é um gigolô. Mas porque ele não julga talentos em gêneros, mas em habilidades. Em suma, ele é um artista exigente! Exigente, mas muito empático!”
Maud Clavier
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Fonte: Maudclavier.com/
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