“A CULTURA DEVE SER UM CAVALO DE TROIA”, DIZ JEAN-MICHEL JARRE

Poucos dias antes de se apresentar para todo o planeta, ao vivo de Paris, durante um concerto virtual único no Réveillon, o mestre francês da música eletrônica, implora para que os artistas possam tocar em todos os lugares, mesmo em países onde liberdades estão sendo minadas.

Canadá – 20 de dezembro de 2020|Por: Cédric Bélanger|Fotos: © Feng Hai

“Sou contra qualquer tipo de boicote”, diz o músico de 72 anos, que já subiu ao palco em Israel e na Arábia Saudita. A questão de acontecer nesses países é regularmente controversa. Israel, em particular, é alvo de frequentes pedidos de boicote por organizações e artistas em apoio ao povo palestino.

Em 2017, Roger Waters e o cineasta Ken Loach, denunciaram a decisão do Radiohead de realizar um show em Tel Aviv. Madonna também foi criticada por concordar em cantar na final da Eurovision 2019 (competição de música europeia) no mesmo local.

“Nunca deixarei de tocar música para cumprir qualquer exigência política, nem vou parar de lutar publicamente contra violações dos direitos humanos em qualquer lugar do mundo”, disse o tecladista francês.

“Acho que temos que ir a países onde as pessoas não possuem as mesmas liberdades que as nossas. Boicote é participação indireta em uma forma de alienação ou radicalização. A cultura deve ser um Cavalo de Troia. Se privarmos as pessoas do cinema, da música e da cultura, somos responsáveis por aplicar uma dupla punição a elas”, denuncia.

UM AVATAR

Em 31 de dezembro, o problema não surgirá, já que Jean-Michel Jarre poderá abordar por 45 minutos, através de sua música, todos os humanos que possuem uma conexão com a Internet, durante o “Welcome To The Other Side”.

O conceito escolhido é tanto um aceno à onda de concertos virtuais que se seguiu ao confinamento decretado por diversos governos, quanto uma demonstração de avanços tecnológicos.

Jarre se apresentará ao vivo de um estúdio parisiense, mas nas telas, os fãs vão assistir ao seu avatar tocando dentro da Catedral de Notre-Dame digitalizada num ambiente virtual.

“O mundo inteiro será capaz de entrar no coração de Paris. Isso é o que eu gosto em Realidade Virtual. Você pode alcançar pessoas que estão socialmente e geograficamente isoladas, mas que podem se reunir”, se entusiasma o artista francês.

A REALIDADE VIRTUAL VEIO PRA FICAR

Produzir esses 45 minutos de música, a partir de trechos de seus álbuns Electronica, Oxygène e Equinoxe, é uma tarefa colossal. Cem técnicos e designers de start-ups francesas trabalham duro desde setembro.

Parece muita labuta para um único evento, mas para Jean-Michel Jarre, o jogo vale a pena se você considerar que a Realidade Virtual veio para ficar.

“Obviamente, nada substitui o prazer de estar em uma sala de concertos ou num festival ombro a ombro, e compartilhar a emoção coletivamente. Agora, faço uma analogia da Realidade Virtual com o início do cinema. Nos tempos dos irmãos Lumière, o cinema era projetado em circos e era considerado uma lanterna mágica. O pessoal do teatro viu isso como uma mera curiosidade. Porém, com o tempo, o cinema finalmente se tornou uma arte importante. A sétima arte, como foi apelidado.”

“E não só não alterou a performance ao vivo, mas reforçou até mesmo o interesse das pessoas pelo teatro. O mesmo vale para a televisão, que se fortaleceu ao invés de enfraquecer o cinema. A Realidade Virtual se desenvolverá como mais um modo de expressão que, na minha opinião, experimentará o mesmo crescimento que o cinema em sua época. Não para substituir nada, mas para fortalecer, para apoiar o show ao vivo com possibilidades que nem podemos imaginar em um palco físico” , complementa o músico francês.

“Welcome To The Other Side” será apresentado ao vivo de Paris, às 19:25 (horário de Brasília) no dia 31 de dezembro. Você poderá assistir em total imersão através da plataforma VRChat  com fones de ouvido e óculos de Realidade Virtual. O show também será transmitido online nas redes sociais de Jean-Michel Jarre.

Fonte: Journaldequebec.com/

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