Durante seis anos, o fotógrafo Sebastião Salgado cruzou a Amazônia brasileira, fotografando a floresta, os rios, as montanhas e as pessoas que vivem lá. Este universo profundo, onde o imenso poder da natureza é sentido como em poucos lugares do planeta, imprimiu no olho de Salgado imagens marcantes, reveladas pela primeira vez ao público. Acompanhada de uma criação sonora de Jean-Michel Jarre, a exposição é um convite para ver e ouvir ao mesmo tempo, o que pensar sobre questões ecológicas e o lugar dos seres humanos no mundo vivo.
UMA JORNADA FOTOGRÁFICA
Seguindo os passos do projeto Gênesis, fotografando as regiões mais remotas do planeta para testemunhar sua beleza majestosa, Sebastião Salgado empreendeu uma nova série de viagens para capturar a incrível diversidade natural da floresta amazônica brasileira e os estilos de vida dos povos. Estabelecendo-se nessas aldeias por várias semanas, ele fotografou onze grupos étnicos. Em pequenos barcos ou do ar, Salgado criou imagens que revelam o complexo labirinto de afluentes sinuosos que alimentam o rio, as montanhas (que às vezes sobem até 3.000 metros de altura), e os céus encharcados que criam verdadeiros rios celestes.
UM MUNDO SINFÔNICO
Além da fragilidade desse ecossistema, a exposição destaca a riqueza do mundo sonoro amazônico ao reunir fotografias impressionantes de Salgado com uma nova criação de Jean-Michel Jarre projetada a partir de sons concretos da floresta. O barulho das árvores, o grito dos animais, o canto dos pássaros ou as cachoeiras que correm do topo das montanhas, coletadas no coração da floresta amazônica, compõem uma paisagem sonora adaptada à jornada do fotógrafo. Nomeado embaixador da UNESCO em 1993, Jean-Michel Jarre está envolvido em projetos de destaque para a tolerância e o pluralismo cultural, bem como para a defesa da natureza e do meio ambiente.
O primeiro anúncio da parceria de Jarre com Sebastião Salgado veio do próprio músico francês, durante um chat em dezembro de 2019, quando ele anunciou para todos os fãs que acompanhavam a transmissão, uma colaboração para uma exposição do fotógrafo brasileiro que será realizada neste ano de 2021 (vídeo legendado em português).
Em 27 de abril de 2020, Sebastião Salgado foi o entrevistado do programa “Roda Viva” da TV Cultura e contou mais detalhes, incluindo a colaboração de Jean-Michel Jarre na parte musical da exposição.
Em entrevista para o jornal “O Globo” no ano passado, Salgado deu mais informações:
“A exposição está prevista para inaugurar em abril do ano que vem, simultaneamente aqui em Paris, no Rio (no Museu do Amanhã), em São Paulo e em Roma. Trabalhei com 12 comunidades indígenas, fiz uma quantidade de fotografias viajando em rios na Amazônia e também muitas imagens aéreas. Tive um grande apoio do Exército brasileiro. Aceitaram que voasse com eles, e quando era preciso sair de suas rotas, eu pagava o combustível. Morei em bases do Exército dentro da Amazônia. A Aeronáutica também me ajudou. Pude fotografar coisas que não se conhece. A Amazônia tem um sistema de montanhas maior do que os Alpes. Todo mundo conhece a Amazônia como uma grande planície repleta de árvores com um grande rio passando no meio. Mas temos montanhas e cachoeiras incríveis. A exposição será o conjunto disso tudo. Temos uma série de testemunhos de grandes chefes indígenas, e o vídeo deles também será exibido. Haverá ainda um lado musical, com um grande concerto do repertório do compositor Villa-Lobos para a Amazônia, com projeções de fotografias para 2,5 mil pessoas aqui em Paris, e orquestra regida pela brasileira Simone Menezes. O Philip Glass compôs uma peça musical para seis ou sete rios. Estamos trabalhando também com o Jean-Michel Jarre, que está compondo sons das árvores, dos rios, dos pássaros, e que será o fundo sonoro da exposição, para se entrar realmente dentro da floresta. O grupo Pau Brasil está também compondo músicas. Será uma exposição musical. E com a parte prístina, pura da Amazônia que correspondente a 81%. Nós destruímos em torno de 19% da floresta. E é uma exposição exclusivamente sobre a Amazônia brasileira. O título será “Amazônia”, com o acento circunflexo. Não vou mostrar destruição, mas a Amazônia que precisamos preservar.”
UMA HERANÇA INESTIMÁVEL
Apresentando mais de 150 fotografias, acompanhadas de enormes projeções para medir essa natureza extraordinária, a exposição destaca a fragilidade desse ecossistema. Salgado procura mostrar que nas áreas protegidas onde vivem as comunidades indígenas (que são seus guardiões ancestrais), a floresta não sofreu quase nenhum dano. Os documentários permitirão que você ouça as vozes daqueles que vivem na floresta e capture a riqueza de sua cultura. Através da força dessas imagens, Sebastião e Lélia Salgado esperam estimular o pensamento e a ação em prol da preservação desse inestimável patrimônio da humanidade.
Abaixo, uma entrevista de Sebastião Salgado para a Philharmonie de Paris (ative as legendas do YouTube para o português):
Sebastião Salgado também é o autor de algumas das fotos mais famosas do pintor e desenhista Michel Granger, responsável pelos artworks de várias capas de álbuns do Jarre como Oxygene, Equinoxe e Rendez-Vous. Atualmente, Granger usa uma das fotos de Sebastião Salgado como foto de perfil no seu Facebook.
A Exposição “Amazônia” acontecerá simultaneamente de 7 de abril a 22 de agosto de 2021, no Espace d’exposition da Philharmonie de Paris e no SESC Pompeia de São Paulo para marcar a universalidade do tema. Depois segue para o MAXXI de Roma, Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro e Museu da Ciência em Londres.
Curadora: Lélia Wanick Salgado
Mais informações em breve…
Fontes: Philharmoniedeparis.fr | O Globo
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