Neste dia 6 de setembro, completam-se 25 anos de um dos mais espetaculares concertos já realizados por Jean-Michel Jarre, que atraiu um público de 3,5 milhões de pessoas. Pela quarta vez, Jarre entrou para o Guinness Book, igualando na época, a marca do cantor Rod Stewart no Réveillon de 1995 na Praia de Copacabana, num recorde que até hoje gera controvérsias.
O concerto foi uma performance em larga escala dedicada à celebração do aniversário da cidade de Moscou – 850 anos desde sua fundação. Naquela semana, um grande número de eventos e shows foram realizados na capital russa: Grande Festival Retro e um show de Larisa Dolina na Praça Manezhnaya, Festival de Sorvetes na Poklonnaya Gora, um concerto de Luciano Pavarotti na Praça Vermelha, entre outros eventos. Mas, claro, o ponto alto das comemorações, foi o concerto de Jarre realizado em frente ao edifício da Universidade Estadual de Moscou, que é visível na maioria dos bairros da cidade.
A produtora da performance de Jean-Michel Jarre em Moscou foi a empresa “Jubilee of the Capital”, criada especialmente para o evento e liderada por Artyom Borovik (1960-2000). O projeto foi apoiado pela Prefeitura de Moscou, através do prefeito Yuri Luzhkov, e foi supervisionado pelo vice-prefeito Valery Shantsev e pela Diretoria de Eventos de Massa de Moscou, chefiada por Oleg Belikov, com a assistência de Lyubov Babak. O principal patrocinador do evento foi o “Banco Menatep” de Mikhail Khodorkovsky. A rádio “Silver Rain” foi a responsável pela divulgação do concerto e a empresa Karat-Ts forneceu a segurança para o local.
Jean-Michel Jarre e sua equipe, liderada pelo produtor Roger Abriol, passaram seis meses trabalhando no projeto. Os trabalhos de instalação começaram no local um mês antes do dia do show. A JSA Stage Company foi a empreiteira local responsável por todos os aspectos técnicos da produção deste concerto. A área para a instalação de equipamentos era bem vasta, passando desde o telhado da Universidade, pelo grande palco nas escadarias na entrada, pelas 5 torres que foram montadas (duas de 22 metros de altura, duas de 24 metros de altura e uma de 27 metros de altura) e pelas 12 torres pequenas adicionais para as caixas de som, posicionadas ao longo da área em frente à Universidade, para evitar o delay do áudio onde ficou o público. Alguns equipamentos foram instalados no telhado do edifício usando um helicóptero. Os serviços técnicos da Prefeitura cobriram uma grande depressão na fonte na praça (ao lado da Avenida Universitetsky) com um piso de madeira maciça, que foi muito importante para a segurança do público durante o evento. Todas as estruturas e equipamentos foram instalados a tempo, e na véspera do show, houve um grande ensaio, que começou pela manhã e se estendeu até à noite.
O evento durou mais de duas horas e recebeu dois nomes: o oficial do lado russo foi intitulado de “Moscou – A Estrada para o Século XXI”, e a produção de Jean-Michel Jarre, intitulou de “Oxygen in Moscow”, causando muita confusão, com algumas pessoas usando a ortografia “Oxygene” (em francês). O uso da palavra “Oxygen” no título do concerto, foi para refletir o sopro de vida na cidade, com a ideia de um renascimento após o período soviético.
A parte musical incluiu composições do novo álbum de Jean-Michel Jarre, Oxygene 7-13, e alguns de seus hits mais famosos, como Rendez-Vous 4, Souvenir of China, Oxygene 4 e Equinoxe 4. No início do concerto, o prefeito Yuri Luzhkov fez um discurso de boas-vindas, e foi também o responsável pela contagem regressiva, realizada junto com um sobrevoo de quatro caças “Sukoi 27”, que eram os mais recentes aviões de combate do exército russo. Quando a contagem regressiva chegou no zero, as aeronaves soltaram fogos de artifício que encantou o público reunido.
Um momento emocionante do concerto, foi a iniciativa de Jean-Michel em prestar uma homenagem à Princesa Diana, que havia morrido uma semana antes em um acidente de carro em Paris. A exibição de um vídeo com a participação dos cosmonautas da Estação Espacial MIR, foi outro momento marcante da noite.
Galeria de fotos (clique nas imagens para ampliar):
TRACKLIST:
Universo Fantástico: Rendez-Vous 2
Arte Bizantina e Czares: Ethnicolor
Minin e Pozharsky: Equinoxe 7
Folclore: Chronologie 6
Napoleão 1812: Magnetic Fields 1
Revolta: Oxygene 11
Construtivismo: Souvenir of China
Heróis: Equinoxe 4
Espaço: Oxygene 7
Ciência: Oxygene 10
Literatura: Oxygene 2
Bolshoi: Magnetic Fields 2
Natureza: Oxygene 4
Espírito Olímpico: Chronologie 4
Paz: Oxygene 8
Futuro: Oxygene 12
Juventude: Revolutions
Moscou: Rendez-vous 4
Final: Oxygene 13
Mapas do projeto:
Desenhos originais dos andaimes das torres e do palco:
DEPOIMENTO DE CLAIRE EVANS, QUE ASSISTIU AO SHOW DA ÁREA VIP:
Você já teve a sensação de que as coisas não estão indo bem? Coloque-se em um ônibus cor-de-rosa russo alugado junto com representantes da mídia mundial, e tente dirigir no meio de 3,5 milhões de pessoas…
Antes, tudo parecia bem. Conseguimos entrar no ônibus da Sony Music para o show de Jean-Michel Jarre em Moscou. Assentos na área VIP esperavam por nós no local do evento. Estávamos hospedados no mesmo hotel de Jean-Michel Jarre e sua equipe: um 5 estrelas estilo americano, e todos estavam realmente ansiosos para chegar ao local do show, com conforto e tempo de sobra.
Nos encontramos no saguão do hotel por volta das 18 horas. Estavam lá representantes da Sony Music e da mídia mundial, incluindo Alemanha, Países Baixos, Japão e Grécia. Um ônibus (cor-de-rosa) chegou a tempo e nós estávamos prontos para, o que pensávamos que seria, um curto traslado até o local do show. Tivemos a infelicidade de descobrir que o motorista estava substituindo o motorista original e que ele não tinha as informações de como chegar ao local do show.
Para encurtar uma longa história, o primeiro posto de controle que chegamos seria também o último. O motorista não tinha o passe correto para aquele posto específico e nem mesmo uma boa quantidade de passes laminados sendo exibidos para a segurança armada o convenceu a nos deixar passar. Depois de mais ou menos uma hora esperando o passe correto aparecer, o motorista ligou o ônibus e foi direto para o engarrafamento mais próximo (até hoje ainda não consigo entender por que ele fez isso). Agora estávamos todos a pé e misturados entre 3,5 milhões de moscovitas.
A área ao redor da Universidade é cercada por árvores densas e por isso não é fácil dizer onde você está em relação ao edifício. Felizmente, estivemos lá na noite anterior, então reconhecemos certos pontos de referência. À medida que se aproximava das 20 horas, ficávamos cada vez mais ansiosos para chegar ao local a tempo.
Vários funcionários da Sony e da mídia estavam conosco e parecíamos as únicas pessoas que não tinham ideia de onde ficava o local do palco. Recebemos algumas ligações em nossos telefones durante esse período, principalmente da Fiona Commins perguntando sobre o paradeiro de seus VIPs.
Com sorte, encontramos uma maneira de entrar. O problema agora seria convencer os soldados do Exército Vermelho que cercavam a área a nos deixar passar. O show estava começando e nos deparamos com centenas de soldados, e nenhum deles parecia falar inglês. Depois de muita linguagem de sinais, fomos direcionados a um “soldado-chefe” que nos permitiu passar e comentou: “Na minha opinião, vocês estão um pouco atrasados“. Ele estava absolutamente certo, já que o voo dos caças ‘Sukoi 27’ que anunciava o início do show já havia passado e podíamos ouvir “Rendez-Vous 2” ecoando à distância. Depois de uma corrida indigna entre as árvores e a vegetação rasteira evitando os outros soldados, finalmente chegamos ao recinto VIP assim que a primeira música estava terminando.
Jamais esquecerei a sensação de alívio quando saí cambaleando das árvores para ver o show em pleno andamento. Agora sei como as pessoas se sentem quando chegam a um oásis no deserto. Depois do show, percebemos que estávamos sem o ônibus rosa e, portanto, não tínhamos transporte de volta para o hotel. No backstage, a impressão era de uma colmeia em atividade: todos exclamando como o show tinha sido ótimo e havia um consenso geral de que foi o mais impressionante e completo até então.
Assim que nos conformamos a voltar caminhando, encontramos um micro-ônibus com um motorista que poderia nos levar de volta. Durante o trajeto, o que vimos foi de abrir os olhos: milhares de pessoas andando pelas ruas, e metrôs e ônibus lotados de pessoas, algumas delas penduradas nos tetos e nas laterais. Na festa pós-show, os músicos comentaram como eles ficaram presos na Universidade após o evento, aguardando um micro-ônibus que nunca apareceu.
Folder distribuído aos convidados e patrocinadores:
Crachás do evento:
VÍDEO RESUMO DO EVENTO PELA JSA STAGE COMPANY:
“Há exatos 25 anos, neste dia, 6 de setembro de 1997, acontecia a famosa mega performance do lendário músico Jean-Michel Jarre. O concerto foi realizado durante a celebração do 850º aniversário da cidade de Moscou. Neste incrível evento, segundo dados oficiais, haviam cerca de 3.500.000 pessoas. O quarto de século que se passou desde aquele dia também é um bom aniversário. Nesta ocasião, hoje apresento um vídeo único sobre esse evento. Os episódios de filmagens foram feitos de maneira caótica, mas ao mesmo tempo oferecem a oportunidade de ver cenas inusitadas e sentir a atmosfera daquele tempo e lugar. O vídeo inclui três partes condicionais: alguns episódios no dia anterior ao show, momentos ‘rasgados’ do próprio show, filmados de diferentes pontos no local em frente ao palco, e filmagens após o show e na área atrás do palco. Praticamente não toquei em nada e deixei tudo como foi filmado pelo operador, um cara, a quem dei a câmera para esta ocasião. A única coisa que não é original neste vídeo é o início, fim, créditos e música sob as palavras do prefeito de Moscou, Yuri Luzhkov, colado como pano de fundo. Claro, estou feliz que houve fragmentos com a minha presença nesta fita (principalmente com uma cara séria). Infelizmente, nem todos os membros da equipe de produção chegaram a este vídeo, tanto do nosso lado, quanto do lado francês. É bom que meu amigo de negócios, o diretor executivo do projeto Anton Chukaev, esteja nas cenas finais. Também estou muito feliz que no final haja imagens com o produtor e jornalista do projeto, Artyom Borovik, e meu bom amigo diretor Vladimir Demin, que supervisionou este gigantesco projeto da Prefeitura de Moscou (por várias razões, ambos não estão mais vivos). Claro, é muito ruim que Roger Abriol e Michele Berthet não aparecem neste vídeo. Mas é bom ter Fiona Commins aqui. Este vídeo está sendo publicado pela primeira vez e finalmente fica disponível depois de tanto tempo. Foi descoberto por mim por acaso há alguns anos, quando eu estava vasculhando materiais nos arquivos da empresa. Havia uma fita numa caixa e não havia praticamente nenhum lugar para assistir em 2016. Encontrei um mestre em Riga que passou a gravação do cassete para o digital. É bom que isso aconteceu e estou feliz em compartilhar este vídeo.”
Alexander Strizhak (fundador, proprietário e diretor administrativo da empresa JSA)
FRANCIS RIMBERT FALA SOBRE O CONCERTO DE MOSCOU
Por: Michael Calvert
Quais lembranças você trouxe de Moscou?
“Para mim, o concerto de Moscou foi uma dessas missões de ‘Comando Francês’ nas quais Jean-Michel faz muito bem. Tínhamos acabado de completar a primeira parte da nossa turnê indoor europeia, e no entanto, tratou-se de quase começar tudo de novo, de nos dedicarmos totalmente a esta nova aventura. Jean-Michel poderia contentar-se em simplesmente transpor o programa da turnê para Moscou, mas quem conhece ele sabe que este não é o seu estilo. Mesmo durante a turnê, ele já estava pensando em um novo álbum, e logo começou a gravar sessões para experimentar novas sonoridades e novos arranjos em um estilo mais techno. Desde a primeira vez que visitei o downtown de Houston, que eu eu não me senti tão tocado por um local, como me senti quando vimos o monumental prédio da Universidade. Quando subi no palco foi um grande choque emocional. Quando você se depara com uma enorme praça, e você coloca as mãos no teclado e o prefeito faz a contagem regressiva para o pontapé inicial, você acredita que tudo é possível e foi. Desde a qualidade da mixagem de som (graças ao eternamente jovem Renaud Letang) até a gestão de palco de Jean-Michel, tudo se juntou para fazer uma noite que foi a mais memorável de toda a turnê.”
Você tem alguma história sobre suas experiências em Moscou que gostaria de compartilhar?
“Uma noite, Jean-Michel organizou um passeio noturno para toda a equipe em um excelente restaurante de Moscou. Ele queria agradecer a todos aqueles que fizeram parte desta aventura. Acabamos rodeados de copos de (muita) vodka, ouvindo o som de violinos russos na mais pura tradição russa. Quando você percebe a pressão que a organização desse tipo de show coloca em você, é ótimo saber que ‘o garotinho de Lyon’ ainda estava organizando uma noite para todos nós. Tenho também uma lembrança dos caças que, durante os ensaios, se divertiam fazendo acrobacias logo acima do nosso palco com trovões de motores a jato. Esses pilotos russos são loucos! Os pilotos da Patrouille de France que passaram no concerto da Torre Eiffel foram muito mais sensatos…”
O frio congelante lhe apresentou algum problema?
“Como você pode ver na foto (ao lado) não foi fácil. Mas lembre-se, foi muito pior para as bailarinas russas…
Fontes:
JSA Stage Company|Conductor of the Masses Edition 22/23
Fotos:
© JSA Stage Company|Alamy|jeanmicheljarre.com|internet
Mapas e Crachás:
Design Duhal
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