Em 1981, Jean-Michel Jarre se tornou o primeiro artista ocidental a se apresentar na China após a Revolução Cultural. Os cinco históricos concertos realizados em Pequim e Xangai, representaram desde então, o desejo de Jarre de se envolver cada vez mais com a cultura tradicional do país. Em 1994, Jarre atuou pela segunda vez no Extremo Oriente realizando um concerto no dia 11 de março, na inauguração do novo Estádio de Hong Kong, abrindo mão de seu cachê para garantir a realização do evento. Ele comentou: “Não é segredo que eu realmente queria fazer isso. Vejo o estádio como uma oportunidade de dar uma imagem diferente de Hong Kong ao mundo. A cidade é conhecida como um importante centro de negócios e esta é uma oportunidade de construir uma ponte para cultura. É meu interesse pessoal e eu estava procurando a oportunidade de desenvolver minha amizade com a comunidade chinesa em uma base pessoal. Espero que isso me leve a poder voltar em 1997 e fazer outra coisa. Isso seria fantástico: a oportunidade de atuar no meio de algo que termina e algo que começa. Uma mistura de Oriente e Ocidente.”
O não comparecimento da atriz e cantora pop Anita Mui foi um golpe para fãs e organizadores. Segundo um porta-voz do Conselho Urbano, a TVB (emissora de TV local) anunciou no último minuto que Mui não se apresentaria devido às restrições contratuais impostas por Jarre e preferiu fazer parte do evento da TVB que foi realizado no estádio no dia seguinte. Além do concerto de Jarre, o evento de três horas de duração, incluiu bandas marciais, uma escola de samba brasileira e um dragão chinês. A cantora e compositora Frances Yip se tornou a primeira pessoa a cantar no estádio, escolhendo o hit de Tina Turner “Simply the Best”. O público então se juntou em um coro de parabéns pelo estádio.
O público oficial na abertura de gala foi de 38.941 pessoas. A maioria pagou apenas HK$ 50,00 para testemunhar o histórico evento. O governador Chris Patten participou da inauguração, junto com o presidente do Jockey Club e presidente do Conselho Legislativo, John Swaine. Juntos, eles entregaram a chave do estádio ao presidente do Urban Council (conselho municipal de Hong Kong responsável pelos serviços municipais da Ilha de Hong Kong), Dr. Ronald Leung Ding-bong.
A polícia foi forçada a usar medidas drásticas de segurança para controlar a multidão que se dirigiu ao estádio. A maioria do público chegou no último minuto. Um congestionamento se formou nas ruas com vários carros e táxis que se espalharam pelas estradas no caminho. A pressão era tal que vários vasos pesados de barro e latas de lixo de metal sólido ao redor do estádio tombaram. A polícia foi forçada a proibir veículos na Caroline Hill Road e na Eastern Hospital Road 30 minutos antes do início do evento. Um porta-voz da polícia pediu mais barreiras de proteção para conter a multidão esperada para o abertura.
Após a abertura oficial, Jarre iniciou a sua apresentação. Do ponto de vista técnico e musical, quase todo o show foi modelado na turnê Europe in Concert, concluída em outubro de 1993. Mesmo palco, mesma Le Tribe (com Michel Valy substituindo Guy Delacroix) e pequenas modificações no tracklist: “Chronologie 1” e “Chronologie 5” foram substituídas por “Fishing Junks at Sunset” e “Souvenir of China”, com novas projeções desenhadas especialmente para o evento. A intenção inicial era que Jarre caminhasse no meio do público usando seu teclado portátil, mas temendo pela segurança, a ideia foi recusada pelos organizadores.
Nos bastidores, o concerto foi marcado pela proibição do uso de fogos de artifício. Os organizadores sabiam antes do desembarque de Jarre em Hong Kong que ele não poderia usar fogos tradicionais, mas os problemas surgiram com os efeitos pirotécnicos que ele planejava usar no palco. Apenas algumas horas antes do espetáculo, foi decidido que muitos dos efeitos não poderiam ser utilizados. Para não cancelar o concerto, Jarre decidiu realizar o evento mas a parte visual não foi tão espetacular como o planejado. Mais de 70% dos efeitos que seriam realizados no palco foram classificados como fogos de artifício e o comitê que poderia aprovar o uso deles não conseguiu se reunir a tempo para o show. De acordo com um membro da equipe de produção local, dos cerca de 100 efeitos que seriam usados no show, Jarre só conseguiu usar 16.
Em artigo de jornal publicado em 14 de março de 1994, Jean-Michel Jarre mostrou sua frustração com a proibição do uso de fogos de artifício durante o concerto: “A música, os lasers e a pirotecnia – todos os três aspectos juntos compõem o meu show. Eu avisei as pessoas desde o momento em que chegamos aqui que fogos de artifício haviam sido planejados. E a única coisa frustrante foi ter um cara dizendo para nós ‘no fireworks’. Em todo o mundo fiz espetáculos com fogos de artifício em Paris, em Houston, em Londres, e ficou demonstrado que não há perigo. Com a proibição dos fogos de artifício, isso praticamente destruiu o conceito que passei muitas semanas elaborando”, disse Jarre. “Achei que era melhor ressuscitar o pouco que conseguimos do conceito original do show e seguir em frente para não decepcionar completamente a população de Hong Kong”.
Jarre levou uma grande equipe técnica para Hong Kong e ficou extremamente irritado com a situação. Mas no geral, considerou o show um sucesso: “Em um nível pessoal, artisticamente falando, e tendo considerado as restrições das quais não tinha conhecimento até algumas horas antes do show, fiquei satisfeito com o calor da resposta do público.”
Setlist:
- Chronologie 2
- Equinoxe 4
- Souvenir of China
- Chronologie 4
- Oxygene 4
- Chronologie 6
- Chronologie 3
- Magnetic Fields 2
- Chronologie 8
- Digi Sequencer
- Band in the Rain
- Fishing Junks at Sunset
- Rendez-Vous 4
- Rendez-Vous 2
- Chronologie 4 (bis)
Le Tribe: Sylvain Durand, Dominique Perrier, Francis Rimbert, Patrick Rondat, Michel Valy, Laurent Faucheux, Dominique Mahut e Julie Lecrenais
Coral: Hong Kong Opera Society
Orquestra: Chuen Ying Arts Centre of Hong Kong
Vídeos:
Fontes: msn.com|Conductor of the Masses Magazine Issue 14
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