Quando Jean-Michel Jarre realizou seu mega-concerto Rendez-Vous Houston, no dia 5 de abril de 1986 e quebrou seu próprio recorde mundial de público, entrando para o Guinness Book, milhares de pessoas que assistiram ao concerto, não imaginavam que fariam parte da história da música. O evento fazia parte do “Houston Festival”, que acontecia anualmente na cidade. O concerto de Jarre, foi o maior momento deste festival e nos anos posteriores, outros artistas tocaram em escalas bem menores, sem grandes proporções do que foi o espetáculo de 1986
Em um episódio recente do podcast Let’s Talk do “Houston City Beat” (empresa de mídia independente que produz podcasts que oferecem uma variedade de discussões e entrevistas com anfitriões da área de Houston), o apresentador Mike Acosta entrevistou Rochella Cooper, uma mulher cuja marca indelével na história cultural de Houston ainda ressoa. Rochella compartilhou sua liderança no “Houston Festival” e seu feito audacioso de dar vida ao Rendez-Vous Houston – A City in Concert de Jean-Michel Jarre. Este espetáculo, celebrando o Sesquicentenário do Texas e de Houston e o 25º aniversário da NASA, tornou-se um momento decisivo para uma cidade cambaleando com as dificuldades econômicas — uma prova do espírito positivo de Houston e uma homenagem aos astronautas do Ônibus Espacial Challenger.
UMA JORNADA GLOBAL PARA HOUSTON
Nascida na África do Sul em 1933, Rochella Cooper construiu uma base na música, obtendo um diploma de Bacharel em Música com distinção pela Universidade da Cidade do Cabo. Ela continuou seus estudos na “Royal Academy of Music” de Londres e em Paris com a flautista Renee Rateau. Em 1959, depois de servir como flautista na Orquestra Sinfônica de Haifa, ela se casou com o Dr. Ben Cooper e se mudou para Houston, onde ele se juntou ao Departamento de Neurologia do “Baylor College of Medicine”. Sua chegada coincidiu com a ascensão de Houston como um centro de inovação, e ela rapidamente abraçou seu potencial. De 1962 a 1969, ela moldou mentes jovens na “The School of the Woods Montessori” como professora de música, diretora e Presidente do Conselho, antes de fazer a transição para uma carreira celebrada como artista têxtil.
Em 1979, Rochella assumiu as rédeas como presidente da “Houston Festival Foundation”, um papel que consolidaria seu legado. Neste episódio do Let’s Talk, ela afirma: “Houston era sobre artes e tecnologia”. Essa crença a levou a transformar o “Houston Festival” em uma plataforma para algo extraordinário.
RENDEZ-VOUS HOUSTON: UMA CIDADE RENASCIDA EM LUZ E SOM
Em 1986, Houston enfrentou uma crise econômica motivada pelo petróleo que diminuiu seu espírito. Três anos antes, Rochella viu o próximo Sesquicentenário e o marco da NASA como uma chance de reacender a cidade. Ela imaginou um grande evento e, inspirada por um folheto dos concertos que Jarre realizou na China em 1981, perseguiu o compositor francês. “Sincronicidade é uma palavra pela qual vivo”, disse ela, lembrando como lançou Jarre como o ajuste perfeito para a mistura de criatividade e inovação de Houston. Em 5 de abril de 1986, o “Rendez-Vous Houston” atraiu cerca de 1,3 milhão de pessoas — ganhando um recorde mundial do Guinness Book— transformando o downtown em um palco de lasers, fogos de artifício e projeções em vários arranha-céus do skyline da cidade.
O design do show foi revolucionário: holofotes perfuraram o céu, projetores lançaram diversas imagens, entre elas, a de Sam Houston e da tripulação do Challenger, e os sintetizadores de Jarre pulsaram durante uma apresentação de 90 minutos naquela noite. Não foi apenas um concerto — foi o skyline de Houston vivo, uma resposta desafiadora à melancolia econômica. As apresentações ao vivo de Jarre e das músicas dos seus álbuns Oxygene, Equinoxe, Zoolook e Rendez-Vous pareciam uma trilha sonora de Houston, encapsulando a essência das paisagens rurais, urbanas e da exploração espacial da cidade. “Houve um brilho na cidade após o show”, disse Rochella. “Não houve crime naquela noite. Foi algo sobre o qual as pessoas falaram na fila do supermercado por dias.”
UMA HOMENAGEM AOS HERÓIS DO CHALLENGER
O núcleo emocional do evento foi sua homenagem aos astronautas do Challenger, perdidos apenas 10 semanas antes, em 28 de janeiro de 1986. O astronauta Ron McNair, um saxofonista treinado em Houston e amigo de Jarre, havia planejado tocar “Last Rendez-Vous” do espaço. Após sua morte, Rochella e Jarre quase cancelaram o evento, mas o astronauta Bruce McCandless os incentivou a prosseguir em homenagem à tripulação. O saxofonista Kirk Whalum, de Houston, assumiu o lugar de McNair e tocou saxofone enquanto uma tela enorme exibia os rostos dos astronautas, silenciando a multidão em reverência. Essa mudança transformou o “Rendez-Vous Houston” em um símbolo de resiliência, refletindo a capacidade de Houston de superar a adversidade.
UM LEGADO DURADOURO
O “Rendez-Vous Houston” não foi apenas um espetáculo passageiro — ele galvanizou os moradores de Houston. As freeways se tornaram plataformas de observação, e dezenas de bombeiros protegiam os telhados dos edifícios contra as faíscas dos fogos de artifício, exibindo a coragem da cidade. Trinta e nove anos depois, continua sendo um marco do orgulho de Houston, um momento em que a visão de Rochella ajudou a unir mais de um milhão de pessoas em admiração compartilhada. O apresentador Mike Acosta tinha 11 anos quando sua família assistiu ao show do “Studewood Park” ao longo da I-10 West (rodovia que se estende da Califórnia até o Texas, passando por vários estados do sudoeste dos Estados Unidos) e, até hoje, continua sendo o evento mais influente em seus trabalhos artísticos pessoais. A influência de Rochella se estendeu além de 1986, moldando o “Houston Festival” e empreendimentos posteriores como Women at the Helm Sailing School. Sua história incorpora o espírito inflexível da cidade. Ela transformou um momento sombrio em um triunfo deslumbrante, provando que Houston poderia brilhar quando mais importava.
Em 2014, o conselho do “Houston Festival” entrou com pedido de falência após vender todos os ativos da organização e cair em uma dívida de mais de US$ 1 milhão (leia mais no Rápido & Rasteiro de julho de 2014). Os tempos de gloria ficaram no passado…
Fonte: Houston City Beat
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