De Jean-Michel Jarre ao Black Eyed Peas, muitos artistas se apresentaram ao ar livre no Planalto de Gizé desde os anos 2000. Mas com a proliferação desses concertos espetaculares e controversos, os arqueólogos egípcios estão soando o alarme.

Será que o último show do artista de música eletrônica Anyma em frente às Pirâmides de Gizé, no início de outubro deste ano, será lembrado como a última experiência do gênero? Fã de espetáculos grandiosos com vídeos gigantes em 3D e feixes de laser, Anyma (metade da dupla italiana Tale Of Us) atraiu cerca de 15.000 fãs nas pirâmides. Após uma denúncia apresentada pelo Egyptian Center for Economic and Social Rights (ECESR – Centro Egípcio para os Direitos Econômicos e Sociais), que representa um grupo de arqueólogos e autoridades locais – incluindo o governador de Gizé – ainda não se sabe se os futuros shows planejados para o mesmo local poderão acontecer.

Sabemos do fascínio que as pirâmides sempre exerceram. O desejo de realizar concertos lá não é recente. Numa foto famosa de 1961, vemos o músico Louis Armstrong tocando trompete em frente à Esfinge. Na época, tratava-se apenas de uma oportunidade para tirar fotos, como parte de uma visita turística paralela a um passeio do trompetista. Foi em 1979 que o cantor Frank Sinatra, também conhecido como “A Voz”, se tornou o primeiro a realizar um show de gala nas pirâmides, a convite da primeira-dama do Egito, Jihane el-Sadat.


Mas o verdadeiro nascimento desses espetáculos faraônicos foi o concerto The Twelve Dreams of the Sun, apresentado por Jean-Michel Jarre durante a transição para o ano 2000. Visualmente impressionante, o show de som e luzes do pioneiro francês da música eletrônica, inspiraria outras apresentações semelhantes: Sting, Shakira, Mariah Careh, o grupo de Hip Hop francês IAM – em comemoração aos seus 20 anos de carreira em 2008 – e mais recentemente, a banda Red Hot Chili Peppers e o Black Eyed Peas em 2021.

Nos últimos anos, a proliferação de grandes concertos de música eletrônica aos pés das pirâmides certamente encantou as redes sociais, mas dividiu profundamente a opinião pública no Egito. O fiasco do festival de música eletrônica “Circo Loco” em 2024 – com milhares de ingressos falsificados, segurança inadequada e aglomerações perigosas – alimentou o crescente descontentamento contra esses eventos, que acontecem apenas algumas noites por ano, mas atraem um grande número de turistas.
Segundo o ECESR, a denúncia alega proteger o patrimônio arqueológico e aponta para o ruído excessivo, a poluição do local e as vibrações que poderiam danificar as pedras de 4.000 anos.

Esta ofensiva dos defensores do patrimônio histórico ocorre em um momento em que o Egito tende a se fechar, a se apegar à defesa de sua cultura, e em que o novíssimo Museu Egípcio do Cairo, há muito aguardado e localizado perto das pirâmides, está prestes a ser inaugurado. As autoridades egípcias pretendem fazer deste novo edifício um símbolo de orgulho nacional.
Fonte: Radio France
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