
O pioneiro da música eletrônica Jean-Michel Jarre disse em entrevista ao programa “Ringvaade” que sua música era considerada “música de alienígena” e ele mesmo, um louco, quando lançou o álbum Oxygene. No entanto, esse acabou se tornando o álbum mais vendido da França, seu concerto em Moscou foi assistido por 3,5 milhões de pessoas e ele foi o primeiro artista ocidental a se apresentar na China comunista.
“Foi estranho, depois da queda da Cortina de Ferro, descobrir que minha música era proibida em Moscou. Embora não tivesse letras, ela era vista como um símbolo de fuga e subversão. Por isso, é tão empolgante para mim tocar na Estônia”, disse o compositor e pioneiro da música eletrônica Jean-Michel Jarre, que se apresentará no dia 17 de junho na Unibet Arena, em Tallinn.
Inicialmente, Jarre não planejava realizar concertos em 2025, mas não conseguiu recusar uma proposta interessante. “Tive a ideia de explorar novas tecnologias e Inteligência Artificial, e apresentar minha música de uma forma um pouco diferente. Experimentar, então será algo muito diferente”, disse Jarre, entusiasmado.
Sobre a ampla disseminação da Inteligência Artificial, Jarre comentou que, no passado, as pessoas também tinham medo do fogo e da eletricidade, mas essas inovações trouxeram grande progresso para a humanidade. “Quanto antes você entende isso e aprende a usar, mais preparado estará para lidar com os efeitos negativos. Nunca devemos esquecer que a tecnologia é neutra, tudo depende de como é usada”, afirmou.
Na adolescência, Jarre tocou em bandas de rock, mas em determinado momento decidiu vender sua guitarra e amplificador, foi para Londres e comprou um pequeno sintetizador.
“Lembro que minha mãe achava que eu estava louco — o filho fazia barulhos estranhos em casa com uma maquininha em cima da mesa de jantar”, contou Jarre, sorrindo. “Foi assim que tudo começou.”
Segundo Jarre, era uma música completamente estranha porque era a época do disco e do punk. “O álbum Oxygene estava completamente fora dos padrões. Quase todas as gravadoras recusaram essa música. Diziam que não tinha vocalista nem baterista, que não funcionaria. Todas as minhas faixas tinham entre oito e dez minutos. Até minha mãe, que me amava e era uma pessoa maravilhosa, perguntou por que eu tinha dado o nome de um gás ao meu disco e colocado uma caveira na capa.”
E Oxygene é o álbum mais vendido da história da França.
Jarre também detém outro recorde especial: seu concerto em Moscou teve um público estimado de 3,5 milhões de pessoas.
“Em todos esses shows grandiosos, a iniciativa nunca partiu de mim, os convites vieram de fora. Em Moscou, por exemplo, foi o prefeito quem fez o convite”, contou Jarre. “Provavelmente, um dos motivos da grande popularidade é que minha música foi proibida por tanto tempo, especialmente em Moscou.”
Jarre também foi o primeiro artista ocidental a se apresentar na China comunista, em 1981. “Foi como tocar na Lua”, relembrou. “E ao mesmo tempo, eu era como alguém vindo da Lua para eles. Meu show era inovador até mesmo para os padrões do Ocidente na época.”
No show em Tallinn, também se apresentará Sven Grünberg, pioneiro da música eletrônica estoniana. “Conheço ele e sua música, mas ainda não nos encontramos pessoalmente”, disse Jarre. “Não devemos esquecer que a música eletrônica nasceu na Europa. Ela não está ligada à América. Ela é herdeira da música clássica. E é justamente por isso que a cena eletrônica europeia é tão importante”, destacou Jarre.
“Quero descobrir algo novo e compartilhar algo inesperado com o público. O show será cheio de surpresas para eles e para mim”, concluiu Jarre.
Veja a entrevista completa no vídeo abaixo. Ative as legendas automáticas do YouTube para o português:
Fonte: eeter.err.ee

O que a Itália representa para você, pessoalmente e artisticamente?
“A Itália sempre foi para mim uma enorme fonte de inspiração: ópera, pintura, literatura, cinema. Penso em personalidades como Umberto Eco, Italo Calvino, Federico Fellini, Luchino Visconti, Sergio Leone, Nino Rota, Ennio Morricone e Adriano Celentano. Desde estudante, fiquei fascinado, especialmente porque certos compositores italianos sempre conseguiram unir sentimentos e sensações contrastantes, felicidade em uma canção triste, um conceito que sempre busquei aplicar nas minhas músicas.”
E na Itália você estará neste verão, para dois concertos em Veneza e Pompeia.
“Dois sonhos de longa data: tocar na Piazza San Marco, em Veneza, e no Anfiteatro Degli Scavi de Pompeia. O Anfiteatro de Pompeia é uma realidade visionária sob todos os aspectos: arquitetônico e sonoro, sobretudo, algo absolutamente vanguardista, com um equilíbrio perfeito entre estrutura e acústica. Tocar lá é a melhor maneira de homenagear o gênio de quem o concebeu, e irei a Veneza e a Pompeia com o mesmo espírito de inovação das pessoas daquela era. Uma dupla homenagem ao fato de que a música eletrônica nasceu na Europa, diferentemente do jazz e do blues, que têm origens americanas. Vou além: a música eletrônica nasceu na Itália, com Luigi Russolo e seu manifesto futurista ‘A Arte dos Ruídos’ de 1913, ideal para definir e enquadrar a música dos séculos XX e XXI.”
O que tornou a música eletrônica revolucionária desde o início?
“Pela primeira vez, compreendeu-se que a música poderia nascer não apenas com notas e solfejo, mas também com e por meio de máquinas. E o que diferencia música de ruído? A mão do músico, o fator humano. Tudo isso – reitero – nasceu na Itália, uma nação onde inovação e visão na arte nunca faltaram. Como na França: ambos são países latinos. Temos muito em comum.”
Seus concertos envolverão Inteligência Artificial. Em que fase estamos com a IA? Velho Oeste, era de ouro, revolução?
“Tudo isso. A IA também significa imaginação, é uma oportunidade fantástica para explorar a criatividade: toda inovação tecnológica abre muitas portas. Pensemos nos primeiros cineastas, nos primeiros fotógrafos. De onde começaram, aonde chegaram e aonde poderão chegar: uma história sem fim. O progresso não pode ser parado, deve ser acolhido da melhor forma: explorá-lo, tirar proveito e combater seus aspectos negativos. A tecnologia, por sua vez, é uma ferramenta, tudo depende do uso que se faz dela. No final, é sempre o homem quem aperta o botão.”
E o homem sempre evoluiu por meio de tentativas e também de erros.
“Toda revolução traz consigo o caos, mas também muitas oportunidades: nos próximos vinte anos, a IA fará o mesmo caminho do cinema em seus primórdios, quando os filmes eram em preto e branco e sem som. Os erros eram comuns, mas foi exatamente por causa deles que se progrediu e se criaram obras únicas. Lembro, por exemplo, do meu primeiro sampler, o Fairlight: nos anos 1980, era considerado o Rolls-Royce da categoria. Eu podia fazer apenas amostras de oito segundos com oito bits. Isso me permitiu criar álbuns fantásticos, com um som muito específico, difícil de reproduzir de outra forma. Isso é o progresso: abrir-se ao futuro e explorar territórios desconhecidos.”
Quanto às redes sociais, tudo depende do uso que se faz delas?
“Sim. Afinal, todo novo meio de comunicação na história sempre foi recebido com desconfiança. Da televisão, disseram que destruiria as novas gerações; o mesmo aconteceu com os videogames e, mais recentemente, com as redes sociais. Os jovens sempre serão atraídos pelo que é novo, cabe a nós, adultos, criar filtros, limites, monitorar os perigos e deixar claras as regras, porque não é verdade que as regras inibem e limitam as liberdades: é o contrário. Pensemos nas carteiras de motorista: elas nos permitem dirigir livremente, mas com regras bem precisas. Afinal, os antigos romanos nos ensinaram que a diferença entre caos e democracia está sempre nas leis, nas regras.”
Agora é mais fácil ou mais difícil compor uma música?
“É tudo como sempre, é sempre uma questão de inspiração. É verdade que agora todos podem produzir música do próprio quarto e distribuí-la diretamente na Internet, e isso é uma fantástica democratização da criatividade. O outro lado da moeda? Desde que começamos esta entrevista, pelo menos 10 mil faixas foram lançadas, a grande maioria das quais será esquecida quase imediatamente. Sejamos otimistas e esperemos que, enquanto conversamos, novos talentos estejam surgindo. Talvez não sejam os novos Miles Davis, Billie Eilish ou Adriano Celentano, mas é preciso sempre ser otimista.”
Qual será o futuro da música?
“O que há de belo na música e nas artes em geral? As emoções que elas sabem despertar: Leonardo da Vinci, Federico Fellini, Ennio Morricone sempre souberam traduzir as emoções em suas obras, com todos os seus contrastes: felicidade e tristeza, preto e branco, amor e ódio. Cada geração usa as ferramentas que tem à disposição, mas as emoções são sempre as mesmas, a tecnologia sempre servirá para dar respostas ao que a humanidade pedir em cada momento.”
Você está sempre em perfeita forma. Como consegue?
“Graças ao Bellini e ao Carpaccio do Cipriani (risos). Tudo mérito deles. Brincadeiras à parte, acredito que seja, acima de tudo, uma questão genética, mas, claro, o estilo de vida conta muito: o corpo, com o passar dos anos, não responde mais como antes e deve ser tratado como uma máquina; eu não fumo, não bebo – exceto Bellini e um pouco de vinho – e faço exercícios todos os dias. E presto muita atenção ao que como: na França e na Itália, temos muita sorte de ter tanta variedade e imaginação à mesa: o importante é saber equilibrar tudo, sem fundamentalismos. Não acredito em dogmáticos que dizem nada de pão ou nada de carne, por exemplo: você precisa de um pouco de tudo.”
O segredo para uma boa vida: a alimentação.
“Tudo está na diferença entre internacional e universal. Internacional significa Coca-Cola, McDonald’s, encontrar em todos os lugares denominadores comuns que nos tornem todos iguais; universal é encontrar no próprio jardim algo único que possa agradar a brasileiros, chineses, americanos. A Itália tem tudo isso, tem raízes locais e regionais e, por isso, é amada no mundo todo. Uma grande sorte ser assim, mesmo com a dose certa de caos. E onde a criatividade se desenvolve melhor? Justamente no caos.”
Fonte: djmagitalia.com

DURANTE O PROGRAMA “THE FLIGHT” DA RÁDIO ITALIANA RTL 102.5, O COMPOSITOR FRANCÊS FALOU AO VIVO SOBRE O SEU RETORNO À ITÁLIA, COM MÚSICA, IMAGENS E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Jean-Michel Jarre foi o convidado do programa “The Flight” da rádio RTL 102.5 no dia 3 de junho. Acompanhado pelos apresentadores Matteo Campese e La Zac, Jarre falou sobre o seu retorno à Itália em grande estilo, concebido como uma Opera Totale. Será uma jornada através de som, imagem e Inteligência Artificial que envolverá o lendário compositor em 360° na sua dimensão mais eclética. Desde o mês de maio até novembro, seu percurso se desdobrará por Milão, Veneza e Pompeia, entrelaçando instalações, exposições e concertos em uma experiência imersiva sem precedentes. Um projeto com múltiplas linguagens, mas com um único arquiteto: Jean-Michel Jarre, que continua a reinventar a arte do som e da imagem na era digital. Esta temporada italiana se apresenta como uma viagem imersiva em três etapas, convidando o público a explorar o futuro da criatividade através da sinergia entre homem e máquina.
PRIMEIRA ETAPA: OXYVILLE
Aos microfones da RTL 102.5, Jean-Michel Jarre falou: “Neste período, tenho muitas coisas para fazer, e é um pouco uma ‘temporada italiana’ para mim. Em primeiro lugar, iniciei um grande projeto, chamado Oxyville, com a Bienal de Arquitetura de Veneza, que tratará de música imersiva”. De fato, de 10 de maio a 23 de novembro de 2025, Jean-Michel Jarre foi convidado para a 19ª Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, intitulada Intelligens. Naturale. Artificiale. Collettiva., curada por Carlo Ratti. O artista apresenta Oxyville, uma instalação musical imersiva inspirada em seu álbum Oxymore, criada com a coordenação artística de Maria Grazia Mattei e do MEET Digital Culture Center. Projetada com som espacializado em 360°, a obra explora a conexão entre áudio 3D e espaço arquitetônico, onde o som se torna o material primário para construir uma cidade imaginária.
SEGUNDA ETAPA: PROMPTITUDE
De 12 de junho a 7 de setembro de 2025, o MEET Digital Culture Center de Milão – o primeiro Centro Internacional para a Arte e Cultura Digital na Itália, fundado em Milão com o apoio da Fondazione Cariplo e criado por Maria Grazia Mattei – sediará Promptitude, a primeira exposição de obras visuais de Jean-Michel Jarre. Um retorno do artista ao MEET, que ele mesmo definiu como “um farol que capta ideias e, por sua vez, as dissemina”, escolhido como o local para apresentar este trabalho que explora a relação homem-máquina por meio do uso criativo de prompts textuais para guiar a IA na criação de retratos de criaturas humanoides. Prompts que ele vê como haikus para a IA: instruções curtas e poderosas que dão vida a mundos visuais inéditos. A exposição será enriquecida pela composição sonora generativa EōN, que evoluirá continuamente, oferecendo um ambiente imersivo em constante transformação. “Haverá também uma instalação ao ar livre em Milão, onde será possível ver o uso da Inteligência Artificial. A relação com as emoções humanas nunca muda, nunca mudou e sempre será a mesma: amor, vida, morte e tudo mais. O que muda é a tecnologia, que permite novos sons e novas formas de expressá-los. Sem o violino, não teríamos Vivaldi; sem a eletricidade, não teríamos David Gilmour ou Coldplay. Será a Inteligência Artificial que nos dirá qual será o som do futuro”, acrescentou o artista durante o “The Flight”.
TERCEIRA ETAPA: CONCERTOS-EVENTO AO VIVO EM VENEZA E POMPEIA
Outro momento fundamental da temporada italiana do artista francês será marcado por dois concertos-evento programados para 3 de julho, na extraordinária Piazza San Marco, em Veneza, onde Jarre sempre sonhou em se apresentar, e 5 de julho, no Anfiteatro Degli Scavi de Pompeia, ocasião em que a música de Jean-Michel Jarre dialogará com as ruínas de uma das cidades mais fascinantes do mundo antigo. Dois locais de extraordinário valor histórico e artístico (Patrimônios da UNESCO) que se tornarão palcos para performances imersivas, nas quais a música se entrelaçará com experimentações visuais por meio de uma encenação de vanguarda, permitindo que Jarre transforme os espaços em ambientes sonoros tridimensionais, onde o público vivenciará uma experiência sinestésica única. Ao vivo na RTL 102.5, Jarre revelou: “Já toquei em lugares incríveis. Tudo começou em Paris, quando eu estava experimentando o som da música eletrônica. Depois, toquei na Place de la Concorde e tive o privilégio de ser o primeiro a tocar na China. Também me apresentei no Deserto do Saara, em Houston, em Moscou e, há apenas alguns meses, na Cerimônia de Encerramento das Olimpíadas de Paris. Por muito tempo, sonhei em tocar em Veneza e Pompeia, porque esses lugares são muito especiais, e me sinto honrado em devolver à Itália um pouco do que ‘roubei’ e usei como inspiração do seu país. A Itália sempre me inspirou do ponto de vista cinematográfico e musical, então ter a oportunidade de tocar em lugares tão especiais me deixa realmente feliz. Gosto muito de tocar ao ar livre, e o conexão com o público é imediata, porque você o vê logo e tem a responsabilidade pela química que se cria. Pompeia e Veneza são duas locações muito diferentes, uma circular e outra retangular, e a acústica e a experiência imersiva serão muito distintas, mas o que tentarei fazer é recriar a atmosfera. Será algo ainda mais belo que a apresentação nas Olimpíadas de Paris, com efeitos especiais extraordinários e uma experiência imersiva, também graças à Inteligência Artificial”, concluiu Jean-Michel Jarre.
Fonte: RTL 102.5
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