Depois de uma nova cirurgia cardíaca, o apresentador do programa “Vivement Dimanche” está preparando não só o seu retorno, mas também a sua despedida da telinha, o que significaria o fim de uma carreira de 60 anos.
“Michel, você pisou nisso!” É Stéfanie, enteada do apresentador, quem aponta os excrementos de sua cadela Izia grudados no tênis esquerdo no meio de uma sessão de fotos. “É boa sorte, não é?”, ri Drucker. Depois do que ele passou, não é mais sorte. Aos 80 anos e duas cirurgias cardíacas muito complicadas, é quase um milagre.
Há cinco meses, Drucker voltou ao hospital para tratar uma infecção, ligada a uma bactéria na válvula mitral (mais informações no Rápido & Rasteiro de abril de 2023). Em seguida, veio uma infecção na cicatriz, que ainda hoje o proíbe de sair ao sol. Exatamente o mesmo cenário de pesadelo de três anos atrás, quando seu prognóstico já estava comprometido. “Desta vez, pensei que não poderia voltar”, diz ele.
Depois de várias semanas de reabilitação e uma rigorosa dieta para recuperar os dez quilos perdidos, Michel Drucker está de volta. A dez dias de gravar o primeiro “Vivement Dimanche” da temporada, no lendário estúdio Gabriel, ele abriu as portas de sua casa em Alpilles (pequena cadeia de montanhas baixas em Provence, sul da França, localizada a cerca de 20 km ao sul da cidade de Avignon), cercada por uma piscina azul-celeste, um campo de lavanda, fileiras de oliveiras e um plátano sob o qual estão dispostas duas espreguiçadeiras. Uma para sua esposa, Dany Saval, e outra para a sua filha.
Apenas três pessoas estiveram lá esse ano: Claude (seu cozinheiro-assistente), Cathy (que cuida de seu abrigo particular de animais) e o apresentador Olivier Minne. Pela primeira vez, Drucker prepara sua despedida da telinha, da qual revela os detalhes.
“Eles não me disseram na época, mas meus cirurgiões me deram de 15 a 20% de chances de escapar com vida. Fiquei quatro dias na UTI. À noite, ouvia enfermeiras pessimistas sobre meu caso. Fiquei muito abalado”. O apresentador passou semanas sem poder tomar banho sozinho, fugindo de espelhos com medo de ver ‘um fantasma ali’.
“Você volta a ser criança, você não é nada, apenas um paciente”, continua ele. “Não há mais ego. É uma grande lição de humildade”. Ele também relata seus delírios, sob o efeito da morfina: “Fiz filmes com Mbappé, Brigitte Macron e até com a Rainha da Inglaterra.”
Ao contrário da primeira internação em plena pandemia do Covid, que deixou Michel Drucker isolado de todos, sua família pôde se revezar com ele desta vez. Em particular sua atual esposa, Dany Saval (que também foi a 2ª esposa de Maurice Jarre), de quem ‘tudo foi escondido’ e que hoje acaricia seu braço com ternura. “Estranhamente, os médicos não me disseram nada”, ela interveio. “Mas eu sabia que ele estava em seu pior momento”. “Imagina se lhe dissessem que você tinha de se preparar para o fim, que era iminente…”, diz Drucker que recebeu dos cirurgiões o apelido de ‘Exterminador do Futuro’.
Stéfanie Jarre (meia-irmã de Jean-Michel Jarre) comentou: “Deixei a carreira de lado. Não tinha cabeça para isso, não conseguia mais dormir”, desabafa. “Michel estava totalmente desnutrido após um mês só tomando soro”, continua Stéfanie. “Disseram-lhe: ‘ou você come ou você morre’. A cura passa pela comida.”
À noite, Dany Saval e Claude levavam outras refeições, à base de peixes e ovos, que eram preparadas por uma nutricionista. “No começo, eu nem conseguia mastigar. Eu não tinha fome pra nada. Se não fosse eles, a comida ficava lá. Eles me salvaram.”
Para Stéfanie Jarre, Michel é ‘mais zen, mais calmo e mais pacífico’ graças, em parte, aos animais que o rodeiam e que ele ama contemplar (burros, cabras, gatos, cães, galinhas…). “Ele resolveu algumas coisas em si mesmo, aprendeu a gestão do silêncio, tempo para focar no essencial”, diz. “Após sua primeira cirurgia, ele foi rapidamente levado de volta pela efervescência”.
“Depois da segunda cirurgia, meu celular foi confiscado por um mês e meio“, lembra Drucker. “Quando voltei a ligá-lo, fui inundado de mensagens. Recebi muitos pedidos. Meu problema é que eu não sei dizer não. Só que eu quero colocar os pés no chão hoje.”
“Procuro não pensar muito no meu retorno”, acrescenta Michel Drucker, que voltará a gravar seu programa dominical no estúdio Gabriel no dia 22 de agosto, para ser exibido na TV no dia 27. “Sei que as pessoas estarão me observando de perto para ver se estou gagá ou franzino. Minha ansiedade é minha memória. Sou um dos poucos que não usa teleprompter e nem fones de ouvido. Isso exige vivacidade. Tenho a impressão de que tudo vai ficar bem. Me sinto melhor do que quando voltei pela primeira vez.”
O apresentador favorito dos franceses expressou seu desejo de continuar apresentando o programa até o final do segundo mandato de Delphine Ernotte, presidente da France Televisions, em 2025. “Depois disso, seria um bom momento para uma despedida. Vou precisar de muita coragem para me desconectar”, continuou o octogenário. No entanto, Michel Drucker quer continuar na produção televisiva: “Vou continuar na produção para manter contato com a profissão. Preciso disso para não ficar entediado. Tenho muitos amigos que caíram em desuso depois de finalizarem suas carreiras”, disse ele. “Quando meu cirurgião, Paul Achouh, me aconselhou a parar, eu disse: ‘Você está brincando?’ Se você tem a sorte de ter uma paixão como trabalho, nunca deve parar”, argumentou, antes de acrescentar: “Ter 80 anos hoje não é ser velho”.
Apesar da saúde debilitada, ele apresentará um programa diário sobre os Jogos Olímpicos com Léa Salamé (jornalista francesa nascida no Líbano) durante as Olimpíadas de Paris no ano que vem. Vai fechar o círculo, 60 anos depois de trabalhar durante as Olimpíadas de Tóquio, em 1964, quando começou a carreira como jornalista esportivo.
Fonte: Var-matin
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