JARRE PARTICIPA DA LIVE DE JOACHIM GARRAUD

Nesses dias de quarentena em quase todo o mundo, o ex-le tribe Joachim Garraud, vem realizando uma série de lives simultaneamente no seu Facebook, YouTube e também no Twitch. Um de seus convidados foi o Jean-Michel Jarre, que no dia 6 de abril, respondeu a várias perguntas e realizou uma jam session surpresa.

Cartaz da live do Jarre nas redes sociais de Joachim Garraud

Joachim começou perguntando como estava sendo o confinamento do Jarre. Ele respondeu que está em seu apartamento, e que naquele momento, estava em seu home studio (o seu estúdio principal fica fora de Paris, em Bougival). Disse que existem dois mundos: um é o mundo hospitalar, onde está o pesadelo. E o outro, é o restante, onde contamos com a sorte de não ficarmos doentes. Ele disse também que existem pessoas que ele conhece que estão entre a vida e a morte, alguns até já morreram, e que é muito difícil e doloroso. Ele se sente em um filme de ficção científica sombrio.

Garraud prosseguiu dizendo que em suas lives, normalmente faz uma pequena apresentação de três minutos para introduzir seus convidados, mas que no caso de Jean-Michel Jarre, isso é totalmente impossível em menos de 30 minutos, devido à sua extensa carreira. Então ele foi procurar em seus arquivos, e encontrou uma centena de horas filmadas entre fevereiro de 1999 e junho de 2000, quando ele produziu o álbum Métamorphoses e trabalhou também no concerto do Egito em 31 de dezembro de 1999. Com as filmagens em mãos, ele editou 18 meses de colaboração diária em cinco minutos, para fazer um pequeno filme pessoal que serviu como introdução da live. Jarre ficou surpreso, pois nem ele mesmo se lembrava dessas filmagens.

Seguindo com a live, Jarre falou sobre como é estar à frente do tempo no pioneirismo da música eletrônica e a solidão com o fluxo em que se vive. De acordo com ele, ser um bom pioneiro, não é isso. “Na verdade, quando estamos separados, é que estamos definitivamente abaixo, e é aí que começamos em uma direção. Mesmo com a música eletrônica, que hoje está em todo lugar, há muitas pessoas que não entendem o que eu faço. A maneira como eu trabalho, em última análise, é muito diferente da maneira tradicional de se fazer música, como fazem os músicos de rock, jazz ou música clássica por exemplo” – disse o músico francês.

Também foi perguntado se ele usaria a tecnologia de drones em shows futuros, não com câmeras, como já foi feito em Mônaco, mas na coreografia visual. Jarre respondeu que sim. “Há empresas norueguesas e chinesas que são fantásticas em realizar coreografias de drones e isso é algo que eu gostaria muito de integrar em um concerto. Mas isso vai depender de muitos fatores para acontecer. Como por exemplo, no último concerto em Al Ula, nós tínhamos um drone que filmou por duas noites e nos dois dias, ele caiu depois de meia hora por causa do vento. Então é complicado. Tem que ter boas condições em um show. Como você sabe Joachim, temos vários elementos diferentes para gerenciar ao mesmo tempo e uma coreografia de drones é realmente muito sofisticado e complicado. Mas é realmente algo que eu gostaria de fazer um dia com certeza.”

Show de drones no céu é algo que está nos planos de Jarre

Perguntado sobre o álbum Electronica 3, Jarre respondeu que está em andamento, mas ainda está no início porque ele trabalhou muito no ano passado com o projeto do aplicativo EōN. Sobre Inteligência Artificial, Jarre revelou que é um dos projetos em que está trabalhando atualmente e que será algo completamente diferente do que ele já fez até hoje. Sobre o temor que podemos ter com a I.A., é sempre o mesmo medo que temos quando ocorre uma revolução tecnológica, quando o salão é para jazz e músicos clássicos chegam e são questionados sobre o gênero musical, pois não está de acordo com as regras. “Acho que vai chegar sem fazer qualquer previsão, e provavelmente usar nossos cérebros de uma maneira diferente e terceirizar toda a informação. Não será confuso com outras coisas, que muitas vezes, somos nós que perdemos tempo e é por isso que nada substitui nada. Mas eu acho que não devemos ter medo, tudo depende do usuário. A tecnologia é neutra, depende de como nós realmente vemos isso. Podemos ver claramente que existem países que são tentados a usar informações individuais, usar drones para monitorar algo diferente, então você tem que ter cuidado. Mas não acho que é realmente um problema e mal posso esperar para ver isso acontecer.”

Em seguida, para alegria de seus fãs e do próprio Garraud, Jarre realizou uma jam session que incluiu seu novo sintetizador: 

Garraud perguntou se existe algo de positivo na arte, em um mundo de contenção global como estamos vivendo agora. Jarre respondeu que existem duas coisas muito importantes. “Para o setor cultural, é algo dramático, pois não há proteção social para eles. Na França, em países emergentes da África, na América do Sul e em outros países do mundo não há absolutamente nenhuma garantia. Vou fazer muita campanha nos próximos dias para chamar a atenção de todos os países, para que levem em conta essas pessoas que trabalham com produção musical, cinema e artes visuais. Você sabe Joachim como é montar uma produção e existem pessoas que estão lá que vivem do nosso dia a dia. E de repente aconteceu tudo isso. Então esse é o lado negativo. Temos que fazer algo. Já o lado positivo é que, de repente, está se confirmando algo que já foi desenvolvido em nossas vidas cotidianas, que é trabalhar com ferramentas virtuais, e eu acredito muito nisso. Estou trabalhando no momento na ideia de um estúdio virtual. Um estúdio onde um avatar pode trabalhar nesse lugar, e você Joachim, que está em Los Angeles, poderia encontrar outras pessoas diferentes no mesmo lugar, com nossos respectivos avatares, onde faríamos músicas juntos, com instrumentos virtuais.”  

Joachim pediu para o Jarre escolher apenas um sintetizador como o seu favorito, e Jarre brincou achando melhor fazer um Top Five. Ele escolheu o AKS, ARP 2600 e alguns dos instrumentos que estavam com ele naquele momento. Mas para responder a pergunta do Garraud, como número 1, Jarre brincou novamente, e optou por um simples laptop, pois nele existem todos os instrumentos. Então, Joachim pediu o Top Five de seus concertos. Jarre escolheu o seu último concerto em Al Ula, porque era um sonho antigo que ele tinha. Realizar algo semelhante ao show do Pink Floyd em Pompeia (a ideia inicial do Jarre, era filmar o concerto, sem público e fazer um documentário). O concerto de Houston também foi escolhido, seguido do concerto do Egito.

Joachim Garraud esperava contar com a participação do Jarre por vinte minutos em sua live, mas o bate-papo acabou se estendendo por uma hora e quinze minutos. Finalizando, Jarre falou sobre o concurso de remixes do EōN, cujo vencedor será conhecido no dia 20 de junho.

A live completa pode ser assistida abaixo. A participação do Jarre termina em 1:15:15 

Fonte: Joachim Garraud

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