JARRE LEVA A “SPECIAL SUMMER LIVE TOUR” PARA O LENDÁRIO ANFITEATRO DE POMPEIA

Com o Vesúvio ao fundo, Jarre tocou no lendário Anfiteatro Degli Scavi
06/07/2025 | Por: Carmine Aymone

O autor indiano Shiv Khera escreveu que “a visão é a capacidade de ver o invisível. Se você consegue ver o invisível, é possível alcançar o impossível”. Quase 50 anos após a publicação — em plena explosão punk — de Oxygene, álbum imprescindível para a música eletrônica futura, de um então visionário músico francês de 28 anos, ainda estamos aqui, olhando com incredulidade para o “invisível” por ele gerado e ouvindo hipnotizados Jean-Michel Jarre.

Entre as pedras milenares de tufo amarelo do Anfiteatro do Parque Arqueológico de Pompeia, expelidas pelo Vesúvio, joia antiga declarada Patrimônio da UNESCO, o próprio Jean-Michel Jarre — após o show na Piazza San Marco, em Veneza — foi protagonista de um espetáculo vindo do (seu) futuro em um lugar onde as almas do passado, apagadas pela fúria do Vesúvio, parecem ainda habitar, em um evento inserido na programação do festival BOP – Beats of Pompeii.

Entre jogos de luz, lasers que disparam ao céu, telões, painéis luminosos e máquinas de fumaça, no centro do palco — como o Capitão Harlock pilotando sua nave voadora Arcadia — Jean-Michel Jarre, aterrado no coração da história, brincou com arte, tecnologia, Inteligência Artificial e música. Como um gladiador 3.0, pronto para combater “o lado obscuro da nossa era”, em um local que, há milênios, abrigava outros jogos: os cruéis e mortais entre gladiadores. “Este concerto foi pensado especialmente para Pompeia”, diz Jarre do palco. “É um sonho realizado poder apresentar meu espetáculo neste local de extraordinária beleza e valor universal.”

Descrever um show de Jean-Michel Jarre é narrar uma experiência imersiva e multissensorial, onde o aspecto musical — por vezes quase secundário — é inseparável do visual e emocional. O concerto começa com “Magnetic Fields 1”, composição de seu quarto álbum de estúdio, um dos primeiros da história a conter amostras de sons naturais. A atmosfera envolve o público, mergulhando-o em um fluxo de sons e luzes que dura duas horas.

Após um quarto de hora, ao som de “Epica Oxygene”, o público se levanta, transformando o anfiteatro romano, com seus 1955 anos de história, em uma das discotecas mais antigas do mundo. Para Jarre, “Oxygene” é o seu “Tubular Bells” (Mike Oldfield), seu “Sirius” (Alan Parsons), seu “My Life in the Bush of Ghosts” (Brian Eno e David Byrne), seu “Phaedra” (Tangerine Dream), e seu “From Here to Eternity” (Giorgio Moroder): um marco e referência de uma eletrônica com um coração pop pulsante.

O artista de 76 anos nascido em Lyon, homem de recordes, cercado por seus sintetizadores e máquinas, guia o público por seu mundo feito de ecos, reverberações e efeitos sonoros. Evoca a natureza, as ondas do mar, os sons de animais, os suspiros do universo, os batimentos “cyberpunk” dos robôs. Entre samples e “loops”, apresenta alguns de seus maiores sucessos: “Oxygene 2”, “Arpegiator”, “Zoolookologie”, “Equinoxe 7”, “Industrial Revolution 2”, “Rendez-Vous 4”

Cada peça se funde com os jogos de luz e as imagens projetadas em três grandes telas e seis painéis verticais posicionados nas laterais do palco. A narrativa visual se adapta ao ritmo, aos sons, à atmosfera. Som, espaço e imaginação dançam livres, sobrepõem-se, perseguem-se: não há muros, não há barreiras. Sua música eletrônica é quase física, palpável, longe de ser abstrata.

“Trabalhei com IA para imaginar este show, não devemos ter medo da tecnologia”, explica ao público (como já havia dito em uma entrevista). “Gostaria que as pessoas não tivessem medo da Inteligência Artificial. Toda grande invenção, como a descoberta do fogo ou a invenção da escrita, desafiou a inteligência humana e a evolução. Subverter a tecnologia: é isso que os artistas e criativos devem fazer hoje”. E ele, há quase 50 anos, brinca e desafia a tecnologia.

Antes de tocar “Robots Don’t Cry”, lembra que a música eletrônica nasceu na Europa e cita o italiano Luigi Russolo (inventor do arco e do piano enarmônico), que, com sua “Arte dos Ruídos”, é considerado um dos pais do gênero. “Herbalizer”, “Oxygene 19”, “Equinoxe 4”, “Brutalism”, “Oxygene 4”, “Epica”, “Stardust”, “Rendez-vous 4” e “Magnetic Fields 2” completam a experiência sonora imersiva, oferecendo ao público uma viagem sensorial em seu grande quadro artístico.

Jean-Michel Jarre, mais uma vez, conseguiu a façanha impossível de entrever, por meio de suas visões, o invisível, exatamente como teorizou Shiv Khera. Ele o fez seguindo trilhas já traçadas por pioneiros como Karlheinz Stockhausen — comparação que faço com as devidas proporções —, que, com a programação de computadores e o estudo das ondas acústicas, soube criar uma fusão entre ciência e intuição sonora, levando os ouvintes a um fascinante desconhecido.

Fonte: Rolling Stone Itália

Fotos: ©hallpic_2025

©Raneza Andsbjerg

© Paolo Barrella

No dia do show, Jarre postou em suas redes sociais:

“Observando vocês…”

“Vamos entrar na arena de Pompeia com meus companheiros gladiadores!”

“Era uma vez…”

REPORTAGEM DA TV ITALIANA:

A “Special Summer Live Tour” está chegando ao fim. No dia 8 de julho, Jean-Michel segue para Sevilha, na Espanha, onde realizará o penúltimo show da turnê na Plaza de España, durante o “Icónica Santalucía Fest”. E, três dias depois, encerrará a turnê em Stuttgart, na Alemanha, no festival “Jazz Open”.

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