Jean-Michel Jarre, pioneiro da música eletrônica, vê a Inteligência Artificial como uma ferramenta para ampliar os horizontes criativos. Para o podcast “Les Echos de l’IA”, Marina Alcaraz conversou com o artista, um conhecedor de inovações tecnológicas e de seus impacto.

« Les Echos de l’IA » é um podcast do jornal francês « Les Echos »
Este episódio foi gravado em outubro de 2025.
Apresentação: Marina Alcaraz.
Redação-chefe: Clémence Lemaistre.
Chefe de serviço: Pierrick Fay.
Convidado: Jean-Michel Jarre, autor-compositor.
Realização: Willy Ganne.
Música: Coma Studio – Floating Abstract.
Uma musa 3.0. Para Jean-Michel Jarre, a IA (Inteligência Artificial) “permite ampliar as fronteiras da imaginação”. O autor-compositor, considerado o pai da música eletrônica, interessa-se muito pela IA, tanto em sua própria criação, quanto como defensor dos direitos dos artistas.
Para ele, a IA apresenta muitas semelhanças com o processo criativo humano. De onde vem uma ideia? “Seu inconsciente vai colher em sua cultura, seu cérebro, sua memória”, um pouco como a IA explora o universo dos dados.
A IA é uma “ferramenta que deve ser usada de acordo com as necessidades”, diz aquele que reuniu milhões de pessoas em locais icônicos. “Todos estamos acostumados a colaborar com softwares cada vez mais aperfeiçoados”. A IA é uma extensão disso, segundo o artista.
Jean-Michel Jarre compreende bem as preocupações em torno da IA, mas as relativiza. Quando ele introduziu a música eletrônica na ópera de Paris nos anos 1970, músicos desligaram o sistema de som, pois temiam que a música eletrônica significasse o fim da orquestra. “Faz parte do DNA humano ter medo do progresso. Portanto, é preciso compreendê-lo, abraçá-lo para combater seus efeitos negativos.”
Ele lembra que o medo da tecnologia não é novo e que, na verdade, cada inovação tende a reforçar o que já existe, ao mesmo tempo em que o faz evoluir — o cinema, por exemplo, não fez o teatro desaparecer. “A tecnologia ajuda na democratização da criação. Quanto mais democratizamos as ferramentas, mais damos uma chance a músicos que não teriam tido a oportunidade de se expressar”, explica Jean-Michel Jarre.
A IA não vai uniformizar a cultura. “O que torna um artista específico é precisamente ser único”, diz ele, acrescentando: “Pode-se dar uma guitarra a qualquer um, nem todo mundo se tornará Eric Clapton”. Para ele, “não há progresso nos sentimentos e nas emoções. Nossa relação com os sentimentos humanos permanece a mesma, o que muda são as ferramentas para expressá-los.”
Pelo contrário, novos gêneros musicais serão criados graças à IA. “Em dez ou vinte anos, consideraremos a IA de hoje como os primórdios do cinema em preto e branco ou mudo, com nostalgia.”
O músico, que foi por sete anos presidente da CISAC (Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores) representando mais de 230 sociedades de autores em mais de 120 países, é um atento observador do setor.
Nos últimos tempos, a International Confederation of Music Publishers — que reúne editores de música do mundo todo — alertou para o “roubo de propriedade intelectual” e acusou os gigantes da tecnologia de quererem abarcar “toda a música mundial” sem respeitar os direitos autorais. Jarre pede que o “bolo digital” seja dividido. “O fundamento da IA generativa repousa no humano. Sem nós, as IAs se limitariam a colher as palavras do dicionário.”
Fonte: Les Echos
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