CONTINUAÇÃO DA PRIMEIRA PARTE
Segunda entrevista para a rádio mexicana WFM:
As informações a seguir têm como base os relatos da época e do fã mexicano Javier Leal “Sr. Roboto” (publicado no fórum espanhol Fairlight em 2005 e republicado no site chrono9394.wordpress.com em 2012), além de informações publicadas em livros e fanzines.
O certo, é que houve muita pouca divulgação deste concerto na Europa, onde fica a maior base de fãs de Jean Michel Jarre. Alguns fanzines chegaram a publicar escassas notícias, mas tanto a Disques Dreyfus quanto a Polygram, respectivamente produtora e gravadora internacional do artista, não se pronunciaram a respeito causando certa confusão junto aos fãs.
Uma operadora de turismo de Monterrey no México, começou a vender reservas de pacotes, que incluia transporte aéreo, hospedagem e ingressos para o concerto. Vários fãs começaram a correr atrás de reservas, mesmo não tendo qualquer informação oficial vindas da Europa.
Os primeiros sinais negativos de que as coisas não iam bem, começaram a aparecer no início de junho. Influenciados pelo alto custo do concerto, muitos patrocinadores e organizadores acabaram desistindo, reclamando que o Concerto para o Eclipse era ‘um evento único de custos exorbitantes’. Apenas algumas instituições ficaram para bancar o show: Bancomer, SECTUR, CONACULTA e Aeroméxico.
Começaram a aparecer outros problemas, como a incerteza dos organizadores com relação à logística aplicada pelo Governo do México levando certa descrença no projeto. O diretor do INAH (Instituto Nacional de Antropologia e História) na época disse: “Em termos de finanças para o evento, foi investido muito dinheiro mas o projeto não era auto-financiado”.
E para piorar, ao que parece, o projeto do “Concerto para o Eclipse” começou a provocar ciumeira na comunidade artística mexicana. Mostrou uma atitude até covarde de um grupo de músicos mexicanos liderados por Daniel Tuchman, Antonio Zepeda, Federico Álvarez del Toro, Jorge Reyes e muitos outros que viam a presença do francês Jean Michel Jarre como ‘o novo conquistador europeu’.
Eles reclamaram: “Como será possível para as autoridades mexicanas contratar o francês Jarre para um show bilionário, na qual o governo estará pagando um soma muito grande em dinheiro, sendo que somos melhores, somos mexicanos e seria um evento muito mais barato?”
Também contestaram o local escolhido para o evento: “Vai ser uma violação da nossa nacionalidade por ser um lugar sagrado para nós mexicanos!” Também provocou certa revolta junto à comunidade indígena, que segundo fontes da época, começaram a jogar ‘praga’ e ‘maldição’, a quem violassem o território sagrado mexicano.
Esses músicos fizeram um movimento contra o concerto junto às autoridades mexicanas. Mas, se num primeiro momento, era o ciúme, porque na realidade esses artistas não estavam abertos para tocar, então o Governo Mexicano tentou oferecer outra alternativa a eles como o “Templo Maior” na Cidade do México ou na escultura do Centro Universitário do México, mas isto acabou sendo recusado.
Os únicos músicos mexicanos que iram trabalhar com Jarre no concerto em Teotihuacán seriam a Orquestra Sinfónica del Estado de México e o grupo La Tribu, especializado em música pré-colombiana e que viu neste projeto como uma criação de algo saudável e de grande divulgação para eles. Um coral também estaria presente.
Conheça o trabalho da La Tribu :
O Governo do Distrito Federal (onde fica a capital Cidade do México), retirou-se das negociações do concerto, forçando os organizadores a reduzir os custos de produção e buscar patrocínios de empresas e outras instituições. Em termos de contribuições por exemplo (em milhares de dólares): Aeroméxico: US$ 350; SECTUR, TELMEX, SILOG: US$ 200 cada; Hotel Campestre: US$ 75; Mercedes Benz e Hermes Corporativa: US$ 120 no total; Club Med e FONATUR: US$ 48; Stouffer: US$ 36 e mais nove empresários, incluindo Miguel Aleman, Araiza Antonio e Dubin James: 50 milhões de pesos cada. E quanto aos apoios: uma cervejaria (possivelmente a Corona), várias outras empresas como a CONACULTA, o Estado do México e a Coca-Cola. Esta última, além de apoio em espécie, tais como roupas para as pessoas na produção, todos os quiosques, hospedagem e venda de refrigerantes na área do concerto fez uma contribuição de 100 milhões de pesos!
Quanto ao Jean Michel Jarre, ele estava de acordo com o governo e organizadores do evento para tocar de graça, e estava viabilizando um acordo para a comercialização do vídeo do concerto com o Comitê Organizador Mexicano que não iria apoiar qualquer coisa que não beneficiasse a entidade. Segundo as palavras de Garcia Moll, presidente do comitê, seriam retirados todo o apoio financeiro na produção de um de vídeo. Jarre, ao que parece, colocou dinheiro do próprio bolso para o concerto seguir em frente devido a essas barreiras e atritos com o comitê organizador mexicano.
Em 18 de junho, Jarre enviou seus advogados ao México exigindo o pagamento imediato de US$ 500 mil para os fornecedores franceses. Se essa quantia não fosse paga, poderia significar o cancelado do show sem aviso prévio. Os organizadores disseram para o conselho, que isso era uma soma que ninguém poderia atender, mas para evitar problemas e um processo, o comitê decidiu pegar o dinheiro dos ingressos vendidos. Os fornecedores franceses tinham sua despesas e impostos que deveriam ser pagas, como eletricidade, salários de pessoas de diferentes instituições como Edo.Mex. INAH e outras, liquidação, limpeza do sítio arqueológico após o concerto, etc.
Em 22 de junho, o comitê do projeto mexicano enviou US$ 100 mil, confirmado por Jarre no dia seguinte. Arnaud de la Villesbrunne, diretor da CICS (empresa do próprio Jarre que administrava seus concertos), nunca entendeu a razão do cancelamento. Ele sendo a contrapartida do comitê operacional mexicano, desmentiu a falta de profissionalismo, especialmente das pessoas do INAH. Depois do cancelamento, Arnaud disse que não sabia o motivo e felicitou as pessoas que trabalharam para que o projeto viesse à luz.
No dia 24 de Junho, foi anunciado oficialmente o cancelamento do concerto por falta de segurança e problemas na produção. Seria então o cancelamento motivado por ordem técnica? Segundo informações de Xavier Bellenger, antropólogo francês e membro da equipe de Jarre, aconteceram problemas técnicos sérios.
Rádio mexicana WFM anunciando o cancelamento do concerto:
Parte 1:
Parte 2:
Logo após o cancelamento, começaram a aparecer informações desencontradas e muita confusão por parte das autoridades mexicanas. O Secretário de Estado Mexicano informou: “O show era totalmente seguro. Jarre falou pessoalmente, comigo e disse que esta não era a sua preocupação.” Então, se segurança não era o problema, o que aconteceu?
Para a equipe francesa foi uma grande falta de informação, em especial no que diz respeito ao equipamento, o que causou um prejuízo de US $ 200.000,00.
Quanto ao INAH, acabou sendo o maior perdedor do cancelamento por ser responsável pela logística de dinheiro, trabalhos e projetos que iram realizar no Museu da Pintura (como a restauração) e projetos no jardim botânico, além de bolsas de estudos para músicos mexicanos e outras promessas.
Além é claro de toda equipe e pessoal que fazem os concertos de Jarre se tornarem verdadeiras operações militares. Foram contratados o Coral e a Orquesta Sinfónica del Estado de México, o grupo La Tribu fabricou 250 instrumentos que seriam usados no concerto (eles não foram pagos por isso) e um grupo de músicos indígenas (huichóis) que só se apresentam em ocasiões muito especiais. Tinha também a equipe internacional de pirotécnica e os organizadores ainda contavam com mais de 5 mil membros da segurança privada e mais de 6 mil efetivos de diversas corporações da polícia, como a Policía Federal de Caminos, Seguridad del Estado de México e a Seguridad del INAH, além da equipe da Cruz Vermelha e o Corpo de Bombeiros para os casos de emergência e uma grande logística do povo do vilarejo de San Juan Teotihuacán, ao lado do sítio arqueológico.
Ao final, foram mais de 5 meses perdidos para ver um mega concerto de Jean Michel Jarre jogado na lata de lixo, faltando apenas 15 dias para acontecer. Para a equipe mexicana, um prejuízo de mais de US$ 200 mil gastos em despesas de diversas espécies como a hospedagem da equipe francesa em hotéis caros, chamadas de conferências, transporte aéreo, empregados assalariados, etc.
A história ainda teve ar de revanchismo quando o diretor do Comitê Organizador mexicano, Sr. Garcia Moll, foi à mídia refutar os motivos alegados por Jarre para a não realização do concerto. Jarre nunca mais quis atender ao chamado dele, então o Sr.Moll disse para a imprensa local que Jarre havia dito que ele era falso e mentiroso.
O fato é que não foi Jean Michel Jarre que cancelou o concerto. Para os organizadores, o fato também é que Jarre nunca deu um anúncio oficial no México e na França do cancelamento, pois ele nunca quis assumir a responsabilidade do que supostamente aconteceu. Acabou sendo uma decisão unilateral de ambas as partes.
Obviamente os fãs ficaram no prejuízo, principalmente aqueles da Europa que fizeram reservas e absolutamente nada aconteceu.
Jarre disse anos depois que as lembranças amargas do concerto o refez rejeitar comida mexicana por 2 anos…
No dia do Eclipse, a cidade histórica de Teotihuacán ficou cheia de curiosos, místicos e membros da imprensa para a celebração do evento cósmico. Veja estas imagens do dia e tente imaginar como teria sido um concerto de Jean Michel Jarre ali:
Fontes:
Site http://chrono9394.wordpress.com/
Livros: Jean Michel Jarre – Biografia espanhola – Autor: Ruben Alonso
O Homem que faz a luz dançar – Autor: Renato Mundt
Fanzines: Destination Jarre – Reino Unido / Globe trotter – França
Fórum Fairlight Jarre – Espanha
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