O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado inaugurou no dia 18 de maio, no museu Philharmonie de Paris, mais que uma exposição: é uma porta para a Amazônia, uma mostra imersiva e musical que busca conscientizar sobre a urgência de proteger a floresta.
Aos 77 anos, Salgado chegou à Philharmonie pelas mãos da sua esposa e curadora da exposição, a editora e ambientalista Lélia Wanick-Salgado, que fez a cenografia de “Salgado – Amazônia”, um dos eventos culturais da esperada reabertura dos museus da capital francesa, na quarta-feira, dia 19 de maio. A abertura para o público, acontece neste dia 20 de maio, com um mês e meio de atraso, devido à pandemia do Covid.
O projeto reúne 200 imagens em preto e branco capturadas em 48 viagens ao coração da imensa floresta, de 5,5 milhões de quilômetros quadrados, o equivalente a oito vezes a superfície da França. A exposição permanecerá até 31 de outubro em Paris e depois seguirá para São Paulo, Rio de Janeiro, Roma e Londres.
“Falta honestidade planetária, ter um desejo real de proteger esse espaço e não comercializar com produtos de áreas desmatadas”, disse o fotógrafo brasileiro.“Lélia queria que as pessoas se sentissem perdidas na selva e ouvissem os depoimentos dos indígenas. Queremos que as pessoas tenham uma outra consciência da Amazônia quando forem embora”, explicou Salgado à Agência EFE (serviço de notícias internacionais da Espanha). O fotógrafo lembrou que o desmatamento da Amazônia começou há 40 anos com a exportação em massa de madeira, carne, soja e outros produtos para a Europa. Com o passar do tempo, a floresta vem sofrendo danos irreparáveis: o desmatamento e a expansão das terras agrícolas acabaram com 17,25% de sua área entre 1988 e 2019. Mas existem aqueles, como Salgado, que fizeram do contato com a Amazônia uma peregrinação sagrada e buscam conscientizar o mundo para evitar um dano maior.
MÚSICA E IMERSÃO
A selva brasileira e 12 dos povos indígenas do país são os protagonistas desta exposição. É uma imersão musical, com uma obra do compositor francês Jean-Michel Jarre, com sons orgânicos, eletrônicos e naturais. “Não queríamos cair na música ambiente ou num discurso técnico. A selva é muito barulhenta e todos os seus sons são independentes. É o oposto de uma orquestra”, explicou Jarre que, para encarar o desafio, utilizou os arquivos do Museu de Etnografia de Genebra, criando “uma harmonia de sons” que nada têm a ver uns com os outros.
No dia 19 de maio, o compositor francês comentou em suas redes sociais: “Finalmente ontem nós abrimos a Exposição AMAZÔNIA com @sebastiaosalgadooficial. Agora está aberta ao público na @philharmoniedeparis. Se você tiver a oportunidade, por favor não deixe de visitar.”
Outra parte da mostra também é acompanhada por músicas de compositores brasileiros: “O Mito da Criação do Rio Amazonas”, sinfonia de Heitor Villa-Lobos, e melodias de Rodolfo Stroeter, que traz um retrato musical de povos indígenas.
Em entrevista ao diretor de filmes Pascal Huynh, Salgado compartilhou suas reflexões sobre este projeto: “Trabalhei duro na Ásia, especialmente na Indonésia. Durante minhas primeiras viagens, a Ilha de Sumatra estava coberta por florestas; agora não há mais. Tudo foi destruído para cultivar óleo de palma. A lição que extraímos da Amazônia se aplica a todo o planeta. Somos parte da natureza, espécies animais, biodiversidade e temos que nos proteger. Nossas vidas urbanas nos tornam alienígenas, estrangeiros do nosso planeta; precisamos voltar para a natureza. Vamos reconstruir um pouco do que destruímos. A Amazônia não é apenas um grande espaço, mas também uma das concentrações culturais mais importantes do mundo: mais de 300 povos diferentes de várias línguas”.
Ele disse que a exposição tem como objetivo fomentar o debate sobre o futuro da Floresta Amazônica. “Iniciei esse projeto em 2013, ciente da ameaça ao destino da floresta, e continuei até 2019. Trabalhei duro com as tribos nativas, mas também com o exército brasileiro, que é implantado para suprimir o mercado de drogas.”
CONTATO COM O PASSADO
“A Amazônia é indescritível. Estar com os indígenas é como estar em contato com o princípio da humanidade, com a nossa pré-história. Temos sorte de poder ter contato com eles, e por isso temos que protegê-los”, disse Salgado.
O fotógrafo compartilhou lembranças sobre sua relação com as comunidades indígenas que visitou e que vivem em 25% da Amazônia. Segundo ele, as visitas para fotografar indígenas sempre foram mediadas por associações e a convite das mesmas, que marcavam a data e perguntavam sobre o “seu mundo”.
“Uma pessoa chega lá, procedente de uma das cidades mais privilegiadas do mundo, pensando que aquela gente não sabe nada. Mas eles sabem tudo, é você quem não sabe nada. Nós estamos na América há 500 anos, eles estão há 20 mil”, ressaltou Salgado, que fez retratos de comunidades como Ashaninka, Korubo, Zuruahã e Marubo.
Salgado – Amazônia:
De 20 de maio a 31 de outubro na Philharmonie de Paris
Endereço: 221 Avenue Jean Jaurès, 75019 Paris – França
Horários:
Terça a sexta: das 12:00 às 18:00
Sábado e domingo: 10:00 às 20:00
Abre às 10:00 durante as férias escolares (6 de julho a 1º de setembro)
Entrada: 12€
Programa:
Fontes: UOL Splash|Eluniversal|Philharmonie de Paris
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